Médico de formação mas sobretudo intelectual, politicamente engajado na defesa dos ideais republicanos e na promoção cultural, Jaime Cortesão aliou a força da palavra a uma ação consistente, envolvendo-se em diferentes iniciativas, como a criação das revistas Renascença Portuguesa; Lusitânia; Seara Nova e a Universidade Popular do Porto. A sua participação na I Guerra Mundial como médico voluntário valeu-lhe a Cruz de Guerra e, ao regressar, foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional, onde protagonizou um importante debate de ideias sobre o sentido desta instituição, dando espaço às opiniões dos seus colaboradores, em particular Raul Proença, e outros companheiros de lides políticas que, tal como Cortesão, tiveram que se exilar depois do triunfo da Ditadura Militar (28 de maio 1926) que abriu caminho ao Estado Novo salazarista. Não obstante a relevância da sua ação política e cultural, foi a obra historiográfica que consagrou Jaime Cortesão, uma vocação revelada durante o exercício das suas funções como diretor da BNL e, certamente, uma forma de aliar o sentido da sua intervenção cívica e política, à sua mundividência, amplificada pelo contacto direto com as fontes e documentos de que se tornou fiel guardião no exercício do cargo de diretor da Biblioteca Nacional.
A dinamização da Biblioteca Nacional durante a direção de Jaime Cortesão contou particularmente com a ingerência de Raul Proença que conhecia os cantos à casa, desde a sua nomeação como segundo conservador (1911), tendo acompanhado as gestões antagónicas de Faustino da Fonseca e Fidelino Figueiredo, mantendo-se firme na senda de uma necessária reforma dos serviços técnicos da BN, incluída a uniformização da catalogação que se encontrava dispersa por múltiplos catálogos diferentes. O empenho nesta vertente mais técnica valeu-lhe o epíteto de “génio do verbete” e arrastou-o para um conjunto de polémicas que, embora centradas no seu desempenho profissional, tiveram um enquadramento político marcante e diversos interlocutores, para além de Fidelino Figueiredo que ocupou o cargo de diretor da Biblioteca Nacional, substituindo Jaime Cortesão, quando este foi compulsivamente afastado das suas funções, tal como Raul Proença, na sequência do envolvimento nos acontecimentos revolucionários de Fevereiro de 1927.
Não obstante, se a dimensão política se impôs à natureza cultural das questões em debate no denominado “Caso da Biblioteca”, a verdade é que esta foi uma forma de trazer para a ribalta a discussão sobre o sentido da biblioteca pública e da organização técnica do acervo documental.