A emergência do V Governo Provisório liderado por Vasco Gonçalves e as marcas que se faziam sentir na intervenção política, causaram uma significativa estranheza e esfriaram o entusiasmo de Oliveira Marques na direção da BN de onde se afastou, em Julho de 1976, apesar de não ter pedido logo a exoneração do cargo, impedindo assim uma substituição imediata, que só viria a ocorrer em 1980. Este facto é alvo de crítica pelo seu sucessor, João Pedro Palma-Ferreira, que releva o sentido político da nomeação, associando-a ao caso do republicano Faustino da Fonseca e a uma visão popular da BNL, sem ambições, estagnada para a resolução dos problemas. Na opinião de Palma Ferreira, o período entre 1974 e 1979, correspondente à direção de Oliveira Marques e à Comissão de Gestão e de Reestruturação, criada pelo decreto-lei nº 159/78 de 4 de Julho, colocou a BNL ao sabor de “perturbações e indecisões internas e externas”, dada a “ausência de orientação e da incapacidade organizativa”. Muito crítico relativamente a Oliveira Marques, não deixa, porém, de reconhecer que o insucesso da BNL era de caráter estrutural e advinha de problemas como a falta de pessoal, a ausência de autonomia administrativa, para além das questões técnicas relacionadas com a deficiente organização dos catálogos, que inibiam a integração da Biblioteca Nacional nas novas rotas da biblioteconomia informatizada.
Neste olhar de relance para dois séculos de existência da BNL / BNP, importa salientar algumas questões estruturantes do seu funcionamento, marcado por uma ação desenvolvida por homens com formação na área do conhecimento histórico e literário, aliado a outros saberes de caráter prático, no domínio do arquivismo e da biblioteconomia, necessários para uma melhor administração da Biblioteca Nacional. Da gestão das sucessivas incorporações de obras pertencentes às ordens religiosas, em suporte papel e quadros, dão-nos conta os primeiros diretores da BNL, com destaque para José Feliciano de Castilho que, no seu relatório, refere um vasto conjunto de 991 telas, grande parte posteriormente destruída, em virtude de se encontrarem deterioradas. Nas mudanças de um para outro espaço, procurando o local mais adequado a este tipo de património, a BNL ficou apenas com retratos de personalidades ligadas ao mundo literário, que constituíram tema do relatório de vários diretores que se sucederam até ao final da monarquia. Depois de proclamada a República, a maioria dos retratos foi encaminhada para a Academia de Belas Artes de Lisboa, regressando à Biblioteca Nacional poucos anos depois (1915), sob intervenção do Inspetor Geral, Júlio Dantas.