O confronto de ideias sobre a articulação entre o erudito, o popular e o público, teve a Biblioteca Nacional como principal enfoque.
A ditadura militar imposta pelo golpe de 28 de maio de 1926 trouxe para a direção da Biblioteca Nacional o tenente - coronel Augusto Botelho da Costa Veiga, que aliou a sua ação no âmbito da defesa militar à prática da investigação histórica. Este diretor dedicou-se sobretudo à história militar mas desenvolveu também trabalhos no domínio da história medieval, destacando-se os estudos sobre a ação de D. Afonso Henriques e, em particular, o episódio da batalha de Ourique, a propósito do qual estabeleceu alguma polémica com as ideias defendidas por Herculano, proporcionando-lhe um lugar entre os especialistas do tema. O cargo de diretor da Biblioteca Nacional, exercido entre 1928 e 1950, facilitou-lhe o acesso à documentação, permitindo escrever muitos dos seus trabalhos, cuja qualidade lhe valeu ser considerado uma autoridade no campo da história militar medieval e um convite para integrar a Academia das Ciências de Lisboa como sócio efectivo, em 1955, ocupando a cadeira deixada vaga por António Ferrão, tornado sócio emérito. Da sua atividade releva a publicação de várias obras, bibliografias, catálogos e a inventariação dos fundos da Biblioteca Nacional.
Foi durante o seu mandato que se publicou o Decreto-Lei 19.952 (27/6/1931), responsável pela reorganização das Bibliotecas e Arquivos, simplificando os serviços e reduzindo os seus custos, dando-lhes uma configuração distinta mas que, na prática, permitiu sublinhar o conceito de biblioteca patrimonial, “cofre”, “reserva”, atribuído à Biblioteca Nacional, por oposição à conceção popular, de acesso livre e fácil para todos e definindo a separação dos serviços administrativos e técnicos. A BNL é considerada um “repositório central e nacional” da Livraria Portuguesa, centralizando a bibliografia portuguesa e o registo do direito de propriedade dos autores. Não obstante a grandeza da sua missão, a Biblioteca Nacional não possuía condições logísticas para garantir o cumprimento do que lhe fora cometido pela legislação oficial. Para comprová-lo foi feito o registo fotográfico de alguns livros e documentos do seu espólio, parcialmente carcomidos pelos bichos, e outros arrumados sem cuidado em estantes desarranjadas: um inventário da miséria que marcou a vida dessa instituição, semelhante ao que fora revelado por Jaime Cortesão quando assumiu a direção da Biblioteca.