Nessa linha, Xavier da Cunha defendia um horário exclusivamente diurno, justificando o fecho à noite por razões de segurança, que se prendiam sobretudo à iluminação a gaz, a que se aliavam argumentos relacionados com a contenção de despesas, usados também para justificar o encerramento nos meses de agosto e setembro, quando a frequência era mais escassa. As suas ideias acerca de uma utilização mais seletiva da Biblioteca Nacional não significavam um desinteresse pela divulgação literária e científica às camadas mais desfavorecidas da população, como se depreende pelo papel dinamizador de uma das mais importantes coleções populares, a Biblioteca do Povo e das Escolas, uma obra que ajudou a lançar (1881), não somente como amigo do editor, David Corazzi, e seu colaborador, mas também como diretor literário, colocando nesse empreendimento o mesmo cuidado que o acompanharia na direção da BNL. Significativamente, o 1º opúsculo era da autoria de Xavier da Cunha e intitulava-se História de Portugal, muito embora não fosse essa a sua área de especialização. Outrossim, a ligação desta publicação à BNL estabeleceu-se através da matéria publicada por Gabriel Pereira, seu diretor nessa data.
Entre os colaboradores que manteve na Biblioteca Nacional, figurou Augusto Pereira de Bettencourt Ataíde, o concorrente selecionado para o cargo de 2º Conservador da BNL, no início do ano de 1903, cuja ação em prol da defesa da leitura pública extrapolou as linhas norteadoras definidas por Xavier da Cunha, como ficou patente na resposta dirigida ao superior hierárquico, que acusa de “rigores ultramontanos”, a propósito das restrições impostas contra a denominada “invasão de bárbaros”, e que foi publicada, em 1905, num texto intitulado A Leitura Pública na Biblioteca Nacional de Lisboa. Vivificando as suas convicções, Bettencourt Ataíde tornou-se, num período posterior, o responsável pela criação das bibliotecas móveis (1915).
Com o advento da I República, a administração da Biblioteca Nacional mudou inteiramente de rumo, consequência não apenas da legislação publicada (decreto de 18 de Março de 1911) mas sobretudo das características do novo diretor, Faustino da Fonseca, um republicano com uma visão mais radical da política de vulgarização da leitura e do papel a desempenhar pela primeira Biblioteca de Portugal.