Dividindo a sua relevante actividade entre as duas principais instituições públicas ligadas ao cinema, o IPC e a Cinemateca, Matos-Cruz pode desenvolver, desde finais da década de 1970, uma impressionante recolha de dados sobre o cinema português que produziu as obras já referidas e também a elaboração de diversos estudos precursores sobre objectos pouco trabalhados até então.
Entre outros autores deste núcleo da Cinemateca encontram-se António J. Ferreira, autor de Animatógrafos de Lisboa e Porto – Perspectiva e alguma História das salas de cinema silencioso 1894-1936 (Ed. Autor, 6 vol., 1989) e colaborador na pesquisa do Prontuário de Matos-Cruz (para o período de 1896-1928); José Navarro de Andrade, coordenador do catálogo Fernando Lopes por cá (1996); Manuel S. Fonseca, colaborador dos catálogos Cinemateca 25 Anos (1983), 25 de Abril – Imagens (1984) e Cinema Novo Português 1960-74 (1985); Manuel Cintra Ferreira, colaborador dos catálogos António Silva (1986), Aníbal Contreiras (1987), Lisboa Filme, Um sonho vencido (1987), Sonoro Filmes (1988); José Manuel Costa, dedicando especial atenção às questões do património cinematográfico português em Cem Anos de Cinema em Portugal: o estado do património (Cinemateca, 1995), e ao estudo do Novo Documentário em Portugal (Cinemateca, 1999); e Tiago Baptista, autor particularmente atento ao período do cinema mudo em Portugal, responsável por publicações como Lion, Mairaud, Pallu: franceses tipicamente portugueses (Cinemateca Portuguesa, 2003) e As cidades e os filmes: uma biografia de Rino Lupo (Cinemateca Portuguesa, 2008).
Finalmente, João Bénard da Costa, sucessor da Luís de Pina na direcção da instituição e uma das referências incontornáveis no panorama cultural português das últimas quatro décadas. Dedicando especial atenção à temática cinematográfica desde finais da década de 1960, quando iniciou a direcção dos serviços de cinema da Fundação Calouste Gulbenkian, Bénard da Costa tornou-se gradualmente numa referência significativa na escrita sobre cinema em Portugal. A sua natural evolução dentro da Cinemateca só reforça a ideia de que este cinéfilo se tornou num elemento decisivo na construção da identidade da instituição a que presidiu entre 1991 e 2009. As linhas de orientação da programação e da actividade editorial da Cinemateca reflectem as fortes ideias matrizes que marcam a personalidade desse seu director. Do mesmo modo, a valorização pessoal de um certo cinema de autor, veiculada desde meados dos anos 60, principalmente nas páginas d’O Tempo e o Modo, tornou-se gradualmente, nas suas linhas gerais, na visão oficial da instituição sobre o cinema português das últimas décadas.