Com o contributo de muitos destes académicos, publicaram-se duas obras colectivas particularmente significativas de uma nova abordagem metodológica ao cinema português: O cinema português através dos seus filmes (Campo das Letras 2007, republicado em 2014 pelas Edições 70), coordenado por Carolin Overhoff Ferreira; e Cinema Português: Um Guia Essencial (SESI-SP. 2013), organizado por Paulo Cunha e Michelle Sales.
Entre algumas dezenas de recentes publicações disponíveis no mercado editorial sobre história do cinema português, as seguintes merecem destaque, sobretudo pela sua incidência e abrangência historicizante: A Invenção do Cinema Português, de Tiago Baptista (Tinta-da-China. 2008); os dois volumes de Cinema Português. Um País Imaginado, de Leonor Areal (Edições 70. 2011); Viagens, olhares e imagens, organizado por Sofia Sampaio (Cinemateca Portuguesa. 2017); e Uma nova história para o novo cinema português, de Paulo Cunha (Le Monde Diplomatique/Outro Modo. 2018).
Neste último período, desde 1992 até aos dias de hoje, a história do cinema português conheceu uma diversidade e uma valorização científica promovida sobretudo a partir da academia, que permitiu desenvolver uma acção transdisciplinar – com a antropologia, arquitectura, sociologia, filosofia, entre outras – que transformaram a prática historiográfica em Portugal, afastando-se definitivamente dos autores curiosos e comprometidos com o objecto que tinham protagonizadas as publicações das primeiras fases. Promovida no âmbito de projectos individuais (dissertações de mestrado ou teses de doutoramento) ou integrando iniciativas colectivas (projectos de investigação ou de transferência de conhecimento para a comunidade), uma vasta produção bibliográfica assente em metodologias científica tem regressado às fontes e proposta uma revisão do conhecimento que, gradualmente, vai saindo da academia e chegando ao mercado editorial, contribuindo também para sua a disseminação no espaço artístico e cultural.
Ao longo das últimas décadas, a produção de conhecimento sobre o cinema português foi-se diversificando, beneficiando do contributo de outras áreas científicas e disciplinares, reflectindo essencialmente a formação profissional e intelectual dos seus autores e o grau de compromisso pessoal, económico e corporativo com o próprio objecto de estudo. Durante as primeiras décadas, o Estado, de forma directa ou indirecta, foi controlando a narrativa que se foi consolidando, assegurando a sua institucionalização, primeiro através do SNI e, já depois do fim da ditadura do Estado Novo, através de entidades públicas, como a Cinemateca ou os sucessivos Institutos de Cinema.