Desta fase conhecem-se preciosos vestígios arqueológicos que documentam exemplarmente o tipo de visão promovida por um grupo de autores sobre o percurso do cinema português. Maioritariamente apoiados em registos de tipo memorialistas, estes autores promoveram uma construção do imaginário cinéfilo português onde privilegiam a instauração de um período dourado ancorado na “comédia à portuguesa” e nos “filmes históricos” enquadrados na visão oficial do regime. Um dos melhores exemplos desta construção da memória passa por António Lopes Ribeiro, sobretudo na apresentação e produção do êxito televisivo Museu do Cinema (1957-74), onde foi possível mostrar, na televisão, os grandes clássicos do cinema mudo.
Como já referido, surpreendentemente, a primeira obra autónoma dedicada exclusivamente à história do cinema português só surgiria em finais da década de 1970, responsabilidade de Luís de Pina e com o curioso título de A Aventura do Cinema Português (Editorial Vega, 1977). Preparada ao longo de uma década, esta “crónica da evolução e do estado actual do cinema português” – como a classifica o autor – integra capítulos dedicados a temáticas específicas, tal como uma exaustiva cronologia e úteis bio-filmografia de autores e bibliografia em anexo. Obra relevante e precursora na historiografia do cinema português, tenta preencher “uma velha lacuna” ao pretender sintetizar uma “caminhada aventurosa percorrida pelo cinema português, os factos, as tendências, os números e os principais intérpretes humanos.” (Pina, Luís de, A Aventura…, 1977, pp. 5-6).
No ano seguinte, o mesmo autor publicaria Panorama do Cinema Português (Terra Livre, 1978), uma obra essencialmente de vulgarização e popularização de conteúdos relacionados com a história do cinema português. Inserida numa série de breviários da cultura portuguesa, era destinada a um público não especializado que queira adquirir conhecimentos básicos sobre a história do cinema português.