No início da década de 1990, a propósito da exposição portuguesa na Europália, Bénard da Costa elaborou uma obra que se insere num significativo conjunto de sínteses da cultura portuguesa, Histórias do Cinema (Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1991), e que marca o fim de um período na historiografia sobre cinema português. O grande mérito desta obra reside na conjugação feliz entre os acontecimentos cinematográficos com a história política e social do país, integrando o cinema como uma espécie de complemento cultural da evolução da sociedade, tentando a concepção de uma história do cinema português à moda da velha história, dando especial enfoque às principais figuras tutelares e seus períodos de maior expressão.
No interessante trabalho sobre a crítica cinematográfica do cinema português nas décadas de 60 e 70, Eduardo Paz Barroso define o que designa por “perspectiva canónica de Bénard da Costa”: através de uma escrita irónica, Bénard da Costa “acaba por constituir uma pessoal e autorizada visão do cinema feito entre nós”, evocando como justificação e legitimação as suas experiências e memórias cinematográficas. Pela sua influência na construção crítica do cinema português, Paz Barroso admite ser “perfeitamente admissível afirmar que João Bénard da Costa está para o cinema português como Harold Bloom para a literatura ocidental.” (Barroso, Eduardo Paz, Justificação…, 2002, pp. 73-76).
No final dos anos 80, surge outra ferramenta indispensável para o estudo cinematográfico português: o Dicionário do Cinema Português, escrito por Jorge Leitão Ramos e editado pela Caminho, em três volumes que cobrem o período 1896-2003. A publicação do primeiro volume, em 1989, marca o fim de um segundo período na produção historiográfica do cinema português. Em pouco mais de uma década (1977-89), a escrita transitou de um registo geralmente memorialista com algumas pretensões historiográficas para a consciência da necessidade de bases científicas e metodológicas interdisciplinares. Apesar da importância da continuidade de inventariação de informação, tarefa oportunamente iniciada e muito bem desenvolvido pela Cinemateca Portuguesa, alguns interessados alertam para a urgência de se iniciar um tratamento crítico dos dados disponíveis e a disponibilizar.