Uma figura muito relevante neste período, do ponto de vista historiográfico, é António Videira Santos, autor que se dedicou à história “primitiva” do cinema português. Colaborador em algumas publicações periódicas, destacou-se no estudo dos pioneiros, sendo justamente considerado o principal historiador dos primórdios do cinema português. Os seus diversos trabalhos popularizaram o “fundador” do cinema português, Aurélio da Paz dos Reis, e outras figuras pioneiras como Pinto Moreira ou Ernesto de Albuquerque. A sua obra fundamental, editada pela Cinemateca Portuguesa, Para a História do Cinema Português (1991), é um volumoso e útil trabalho sobre os tempos fundadores do cinema português, contendo dados inéditos sobre o surgimento do cinematógrafo nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
A partir dos anos 80, devido ao determinante impulso de Luís de Pina e da sua equipa de colaboradores na Cinemateca Portuguesa, verifica-se um surto considerável na produção historiográfica relativa à área cinematográfica. Dividindo a sua atenção entre a organização de retrospectivas de cinema português, a coordenação de catálogos dedicados a realizadores e actores, a promoção de monografias sobre figuras precursoras, o estímulo do estudo dos principais momentos históricos e movimentos estéticos e a história da própria instituição, a Cinemateca Portuguesa rapidamente se transformou no principal núcleo de produção editorial do cinema português, com dezenas de publicações.
Um dos colaboradores da Cinemateca que muito contribuiu para o desenvolvimento da investigação da história do cinema português foi José de Matos-Cruz, investigador responsável por duas obras fundamentais: O Cais do Olhar (IPC, 1981; reedição “revista, actualizada, corrigida e ampliada”, Cinemateca Portuguesa, 1999) e Prontuário do Cinema Português, 1896-1989 (Cinemateca Portuguesa, 1989). Marcando o culminar de vários anos de exaustiva pesquisa laboratorial, estes títulos procuravam iniciar a concretização de uma ambiciosa Enciclopédia do Cinema Português e estas obras inserem-se num notável esforço de inventariação fílmica que compreendeu a pesquisa de “bibliografia publicada, imprensa em geral, revistas especializadas, registos de censura, catálogos, programas, estudos particulares, múltiplos ficheiros de diversos organismos, laboratórios e empresas, listas dos principais arquivos, edições de cinemateca, milhares de documentos avulsos – de origem portuguesa ou estrangeira, abrangendo as mais de nove décadas em causa – além dos contactos e testemunhos pessoais” (Matos-Cruz, José de, Prontuário…, 1989, p. 5).