Manuel Félix Ribeiro foi uma espécie de primeiro “cronista cinéfilo oficial do reino”, ou seja, um proto-historiador do cinema português que vinculou a sua versão pessoal enquanto versão oficial da Cinemateca Nacional. Enquanto pioneiro, definiu a estrutura de uma narrativa sobre a história do cinema português dos primeiros cinquenta anos que, na sua essência, vigora até hoje na generalidade das principais publicações historiográficas portuguesas.
Papel igualmente relevante nesta primeira fase de construção historiográfica sobre o cinema português teve Jorge Pelayo. Para além de ter colaborado nas principais publicações periódicas especializadas em cinema do seu tempo e ser organizador de importantes sessões de cinema clássico e de retrospectivas do cinema sonoro português, Pelayo também desempenhou uma paciente actividade na organização da Filmoteca do SNI/SEIT. Mas a obra que o faz figurar meritoriamente na história do cinema português foi publicada em 1966, conhecendo já duas reedições actualizadas e ampliadas (1985 e 1998): Bibliografia Portuguesa de Cinema é um instrumento indispensável – como o foi para a realização deste texto – para qualquer trabalho sobre a história do cinema português. A alteração do subtítulo da primeira edição (Bases para um ensaio teórico) para Uma visão cronológica e analítica responde a uma propositada mutação metodológica que norteou as segunda e terceira edições. Abdicando da “função judicativa” da apreciação pessoal da primeira edição, o autor valorizou a “função informativa” e alargou consideravelmente o corpus do seu trabalho, nomeadamente através da inclusão de publicações periódicas e publicações em série.
Em 1949, é publicada uma interessante e importante obra assinada por António Horta e Costa. Com um volume de informação considerável (122 páginas), Subsídios para a História do Cinema Português (Empresa Literária Universal, 1949) constitui uma excelente relação cronológica dos filmes e da produção escrita sobre cinema em Portugal nos 50 anos anteriores (1896-1949). No mesmo registo, surge alguns anos depois um importante título dedicado exclusivamente à imprensa cinematográfica. Breve História da Imprensa Cinematográfica Portuguesa (Clube Português de Cinematografia, 1954), da autoria de Henrique Alves Costa. Menos significativo e consequente, mas igualmente valioso, foi o contributo do jornalista Chitónio Montalverde, nomeadamente com Nomes e Números do Cinema Português (Ed. Autor, 1969) e Os Primórdios do Cinema Português (Ed. Autor, s.d.), onde o autor acrescenta dados novos a biografias e filmografias pouco exploradas.