Em suma, Manuel de Azevedo e Roberto Nobre foram duas das principais figuras da crítica cinematográfica que sempre lutaram contra a versão oficial da história do cinema português produzida por Félix Ribeiro e patrocinada por entidades públicas.
Também da crítica, mas oriundo de um campo ideológico oposto aos dois últimos exemplos, destacavam-se dois nomes: Manuel Moutinho Múrias publicou uma obra significativa, História Breve de Cinema (Editorial Verbo, 1962), dedicando algumas referências pouco desenvolvidas ao cinema português; e Fernando Duarte, dirigente cineclubista de Rio Maior, director das revistas de cinema Visor (1953-56) e Celulóide (1957-1984) e autor de publicações como Primitivos do Cinema Português (Cinecultura, 1960), Elementos para a História do Cinema Português, do livro e a imprensa cinematográfica e do cineclubismo (Celulóide, 1976) e Apontamentos para a História do Cinema Português que não se fez (Celulóide, 1978).
Este inventário dos primeiros escritos historiográficos sobre o cinema português não ficaria completo sem a referência a Alice Gamito, autora a quem se deve um inestimável trabalho na investigação do cinema agrícola. Esta autora, à semelhança de Félix Ribeiro, desenvolveu uma dupla tarefa: por um lado, um trabalho prático na organização da Filmoteca do Serviço de Informação Agrícola e, por outro, uma produção editorial a propósito do cinema de meio rural e agrícola em Portugal, sobretudo a partir das actividades promovidas pelo Festival de Cinema de Santarém.
Esta primeira fase da historiografia sobre o cinema português, que se pode balizar entre o primeiro texto de Félix Ribeiro (1946) e a primeira obra inteiramente dedicada à história do cinema nacional (A Aventura do Cinema Português, de Luís de Pina, 1977), é marcada por um importante conjunto de figuras que se destacaram sobretudo na inventariação e reunião de materiais dispersos e cuja validade e principal valor viriam a ser demonstrados posteriormente. Os textos identificados nestes anos filiam-se igualmente num tipo de narrativa expositiva, dando maior realce a apreciações críticas com forte pendor pessoal. Este período ficou também marcado por um surto editorial significativo onde se contam colecções temáticas de algumas editoras e traduções dos grandes autores internacionais, permitindo a divulgação de aspectos históricos e estéticos fundamentais. Este clima de euforia editorial reflecte um entusiasmo geral oriundo sobretudo do movimento cineclubista que, no seu período áureo, animou a valorização cultural e artística do fenómeno cinematográfico.