A par da revisitação textual da história e memória da presença portuguesa no Oriente, não se descura a necessidade de criar infraestruturas de apoio ao desenvolvimento dos estudos orientais em Portugal, sendo frequente o apelo à (re)organização e classificação de núcleos documentais desde o final do século XIX. Apenas meio século mais tarde, na década de 1950, sobressaem nomes como o de Silva Rego com o seu projeto da Filmoteca Ultramarina Portuguesa. Criada em 28 de janeiro de 1952, passando em 1955 a integrar o recém-fundado Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, era seu objetivo dar continuidade material a essa história da presença portuguesa na Ásia através da reunião, em microfilme, de documentos repartidos por arquivos dispersos pelo mundo, desde que relacionados com a história da expansão. Tratava-se, no fundo, de criar um espaço documental de memória do império.
A revisitação da história da presença portuguesa no Oriente, através dos seus heróis e de episódios desse passado, constituiu-se, no fundo, como uma genealogia que é também a do desenvolvimento de um conjunto de saberes, os estudos orientais – ou orientalismo. No discurso dos orientalistas portugueses entre o final do século XIX e a década de 20, esta genealogia é, na verdade, uma genealogia da ausência desses estudos em Portugal, ainda que, à luz do estado da arte atual, esse continue a ser o período em que os estudos orientais mais floresceram e mais se fez orientalismo em Portugal. Essa revisitação não deixa de se manifestar na literatura portuguesa finissecular. Com a melhoria e o aumento das possibilidades de viajar, aproximando lugares e pessoas, a que acresce a abertura, não menos significativa, do Japão ao Ocidente a partir de 1854, intensifica-se o trânsito de jornalistas, oficiais do estado português (marinheiros, diplomatas, cônsules), de intelectuais e curiosos que darão testemunho das suas impressões de viagem, reproduzindo por vezes os tópicos dos discursos mais académicos e dando amiúde vida a narrativas etnocêntricas de desconfiança ou constatação do atraso e diferença do Outro tipificado como exótico.