Vasconcelos Abreu teria ambicionado escrever uma história monumental da presença portuguesa na Ásia, para a qual afirmava contribuir com fragmentos através da obra que ia publicando, vocacionada tanto para o ensino da língua sânscrita como para o estudo comparado de religiões, mitografias e tradições literárias a partir de uma perspetiva filológica. Bacharel em Matemática pela Universidade de Coimbra e formando-se depois em Engenharia Naval pela Escola Naval, entre maio de 1875 e julho de 1877 Vasconcelos Abreu prosseguiu estudos de filologia oriental, em particular de Sânscrito, em Paris – na École Pratique des Hautes Études – e na Alemanha – na Universidade de Munique (de onde sai com uma carta de recomendação de Martin Haug). Para isso contou com uma bolsa do Ministério dos Negócios Estrangeiros para cultivar estudos que permitissem o “conhecimento do estado social e moral dos indígenas das colónias” (Abreu, Investigações, 1878, p. 5, n. 2), o qual seria essencial ao desenvolvimento de políticas de administração direta e de uma prática colonial mais eficazes. Argumentando em favor da necessidade de educar para saber gerir e manter as colónias, Vasconcelos Abreu, tendo em mente a Índia portuguesa, que poderia porventura ser reabilitada como a joia da coroa portuguesa à semelhança da congénere britânica – muito embora África representasse até ao final a esperança de redenção nacional (Catroga, “A história começou a Oriente”, pp. 227-230) –, defendeu a criação de um instrumento educativo ao serviço do estado português: um Instituto Oriental e Ultramarino, promotor de uma educação científica colonial. Apresentou este projeto no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa em 1890, tomando como modelos as escolas coloniais existentes em Inglaterra, França, Holanda e Alemanha, potências europeias detentoras de impérios já firmados. A Escola Colonial, criada em 1906 sob os auspícios da Sociedade de Geografia de Lisboa, acabaria por preencher essa função. Integrou um Instituto de Línguas Africanas e Orientais cujo currículo incluiu, até 1974, o ensino das línguas árabe, sânscrita, concani, tétum e chinesa, expondo uma visão utilitária do ensino, especificamente orientado para “agentes da administração ultramarina” (Thomaz, “Estudos árabo-islâmicos e orientais”, 2012, p. 15).
Já David Lopes fez a sua formação superior em instituições de ensino que procuravam dar respostas pedagógicas aos interesses coloniais dos seus governos. Discípulo confessado de Alexandre Herculano, o primeiro arabista português lecionou a nível superior, entre 1914 e 1937, a cadeira de Árabe na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (após um interregno de quase 45 anos, quando em 1869 foi extinta no Liceu de Lisboa, era então lecionada por Augusto Soromenho). Iniciou a sua formação em Paris, onde frequentou em simultâneo, entre 1889 e 1892, a École des Langues Orientales Vivantes e a École Pratique des Hautes Études. De regresso a Lisboa, ingressou no Curso Superior de Letras, na qualidade de aluno ordinário, que concluiu em 1895. Ali foi aluno de Vasconcelos Abreu, Consiglieri Pedroso, Adolfo Coelho, Teófilo Braga, Augusto de Sousa Lobo e Jaime Constantino de Freitas Moniz.