Pedroso propõe um retorno às origens de um período áureo da história da nação, que é também o da presença portuguesa na Ásia. Este retorno foi tanto mais importante enquanto exame de consciência da nação face à constatação do seu atraso científico e cultural em relação aos vizinhos europeus, isto é, enquanto exercício de racionalização de uma identidade e história nacionais em crise – ou decadência. Vulgarizando-se no século XIX sobretudo com os trabalhos de Alexandre Herculano (por exemplo O Bobo, 1843) e de Antero de Quental (Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, 1871), a decadência seria um dos tópicos recorrentes do orientalismo português e justificada como consequência ora da expansão marítima (Matos, “Oriente e Orientalismo”, 2002, p. 212), ora, no caso específico do império do Oriente, da atuação da Inquisição (Lopes Mendes, O Oriente e a America, 1892, p. 38) ou até mesmo da derrota portuguesa na batalha de Alcácer Quibir, que determinou o início da decadência da presença portuguesa em África – espaço, aliás, de mediação geográfica com o Oriente – e simbolizaria a derrota de Portugal enquanto força militar (Colaço, ms. Alcacer-Kebir, 1901 [1892]). É esta noção de decadência que concorre para a perceção, no final do século XIX, de uma falha entre potencialidade para ser e performance ou, se quisermos, História, o que se fez e é. Ao mesmo tempo que, no mapa europeu, Portugal lamentaria a perda do seu status imperial, procurando “tão-somente conservar o que restava do seu velho império do Oriente” (Catroga, “A história começou a Oriente”, 1999, p. 228), no discurso europeu proliferavam lugares-comuns na caracterização das civilizações orientais antigas, como o da decadência, associada, como bem mostra a citação de Pedroso, à imagem da ruína ou do vestígio de uma glória passada. Glória essa que apenas os Portugueses de Quinhentos e Seiscentos teriam ainda conseguido testemunhar e que, no século XIX, seria suplantada pelo progresso europeu e, em contrapartida, por uma ideia de inferioridade ou desigualdade do Outro, não europeu e não cristão. Retomando Lopes Mendes, “[a] Índia, tendo em tempos remotos caminhado na dianteira da civilização, deixou depois outras nações tomarem-lhe o passo”, ou “os autóctones da Índia [...] não têm recebido o influxo da civilização europeia” (O Oriente e a America, 1892, pp. 2, 17).