Tanto a Vasconcelos Abreu como aos seus pares orientalistas, nacionais e estrangeiros, simpatizantes das ideias positivistas, sobretudo durante a década de 1870, interessaria não apenas rastrear as origens históricas, étnicas e linguísticas dos povos europeus como também conhecer as dos povos orientais sobre os quais os países da Europa mantinham relações de soberania, condição para o progresso tanto das colónias como, naturalmente, da metrópole europeia, que clamaria para si a condução desse processo evolutivo. Em sintonia com os países germânicos, também em Portugal Teófilo, Antero e Oliveira Martins sustentariam a tese de uma origem mítica superior – a ariana – para o povo português (Catroga, “A história começou a Oriente”, 1999, pp. 218-222).
Consiglieri Pedroso, em 1898, avança uma conceção de orientalismo também ela vocacionada para o estudo do passado, em particular de uma antiguidade clássica: “O orientalismo, isto é, a revelação assombrosa das velhas civilizações extintas, que outrora encheram com a sua fama o mundo asiático, só pode surgir à voz dos William Jones, dos Colebrooke, dos Rawlinson e de tantos outros eruditos, depois que pela audácia dos nossos marinheiros se lhes tornaram acessíveis as terras, onde jaziam os vestígios dos impérios evocados por eles à vida histórica” (Influencia dos Descobrimentos, 1898, p. 24). Para além de aliar o orientalismo ao estudo da História, Pedroso assinala uma circunstância de precedência empírica que se manterá como subtexto argumentativo e elo unificador dos demais discursos nacionais sobre o Oriente entre o final do século XIX e ao longo do de XX: o pioneirismo português no conhecimento in loco de territórios orientais, com destaque para os da Ásia, suas populações e línguas através da aventura da expansão marítima viabilizada pela viagem de Gama (1497-1498). Esta servirá de mote ao chamado “Oriente Português”, “que se estrutura num período que decorre dos primeiros anos do século XVI até às primeiras décadas do século XVIII, termo temporal em que se pode considerar estabilizado o processo de estabelecimento do Estado português no Oriente” (Saldanha, “Do Oriente Português”, 2004, p. 28). Os discursos finisseculares sobre o Oriente não se cansarão de retomar este tópico do contacto direto como, por um lado, rememoração de um período de progresso na história da nação que intermediou os primeiros diálogos culturais e comerciais entre a Europa e a Ásia e, por outro, como um ponto de viragem na história do progresso e da modernidade europeus e, por conseguinte, na construção tanto de um discurso como de um imaginário orientalistas.