O período entre guerras e imediato pós-guerra, marcado pelo fim do que Hespanha designou como a “mitologia republicana” de retorno às grandes figuras da história da expansão (“O Orientalismo em Portugal”, 1999, p. 30) e pela concomitante ascensão da direita com o estabelecimento do Estado Novo, corresponde grosso modo a uma fase de estagnação tanto para a produção historiográfica nacional como para os estudos orientais, ao mesmo tempo que foi propício ao cultivo de discursos de poder sobre o Outro colonial (oriental ou africano). Ao alinhar-se a historiografia com os ideais, interesses e agenda do regime, ficou isolada de outras tradições produzidas fora de Portugal e refém de discursos de exaltação patriótica e de reivindicação de um status colonial, assim como de replicação das teorias raciais (de Ernest Renan ou Gobineau) tão pouco favoráveis ao estrangeiro. A teoria luso-tropicalista, de que o Estado Novo se apropriou nas décadas de 50 e 60 em reforço da sua ideologia, mais não seria do que uma revisitação dos discursos orientalistas, na aceção moderna que Said dá ao termo, tanto mais que reafirmada e sistematizada numa conferência no Instituto do Vasco da Gama em Goa, em 1951. Também as efemérides de exaltação da pátria assumem contornos mais aparatosos e claramente educativos, como o foram a Exposição do Mundo Português de 1940, no âmbito do duplo centenário da fundação e restauração de Portugal, ou as comemorações do quinto centenário da morte do Infante D. Henrique, em 1960. A História de Portugal, em sete volumes, dirigida por Damião Peres e publicada entre 1928 e 1954, apresenta-se como uma edição monumental comemorativa do oitavo centenário da Fundação da Nacionalidade; entre 1937 e 1940, mais comedida é a História da Expansão Portuguesa no Mundo, em três volumes, sob a direção de António Barão, Hernâni Cidade e Manuel Múrias, cujo título não deixa, contudo, de evocar um projeto ecuménico e o papel de Portugal na feitura da história universal. Também o último volume sai por ocasião das comemorações do centenário da fundação e restauração de Portugal. A expansão marítima foi um tema e expediente retórico constante da historiografia nacional, servindo a construção de narrativas simbólicas sobre a história de Portugal que são, no fundo, narrativas identitárias pelas quais se procuraria preservar, instrumentalizar e atualizar uma memória histórica e coletiva.
A partir da década de 60 inicia-se o fim da influência portuguesa em territórios ultramarinos, primeiro em 1961, com o desmantelamento do Estado Português da Índia, um ano depois de o jornal O Século preparar um suplemento a ele dedicado, a 9 de dezembro de 1960, em cuja folha de rosto se lê “a unidade, a grandeza e o prestígio de Portugal”. Sem dúvida, um gesto último de negação de um desfecho por todos adivinhado e de evocação do mito do império, que serviu de baluarte ao regime e de justificação para o projeto do ultramar. Seguiram-se-lhe os processos de descolonização de África, chegando o ciclo colonial definitivamente ao fim com a restituição da administração de Macau ao governo da China em dezembro de 1999.