Em síntese, os estudiosos das matérias orientais serão responsáveis por, no século XIX, fomentar e manter à escala transnacional uma rede de intercâmbios mediatos – assentes numa intensa atividade epistolográfica – e imediatos – estes de mobilidade, sobretudo por via da participação em encontros científicos e também em missões de estudo ou campo –, que ajudariam a solidificar um quadro de produção de saberes mais contínuo e fértil sobre a Ásia e o Oriente em geral. As sociedades e associações científicas, tanto públicas como privadas, que se vão fundando na Europa desde o último quartel do século XVIII, em alinhamento com as orientações científicas e políticas dos governos nacionais, tiveram um papel fundamental não apenas no apoio à atividade dos orientalistas, mas também na dinamização do ensino especializado. Em Portugal, são dois os exemplos mais paradigmáticos: dentro do espírito iluminista, é fundada a Academia Real das Ciências de Lisboa, em 1779, que apoiou a criação do Curso Superior de Letras, em 1859, e foi o seu principal mecenas; com uma orientação mais politizada e visando sobretudo a presença portuguesa em África, a Sociedade de Geografia de Lisboa, fundada em 1875 por umas quantas figuras da vida cultural e intelectual portuguesa, sob a iniciativa de Luciano Cordeiro e com o apoio do governo, por intermediação de Andrade Corvo, patrocinou, como se disse já, a criação da Escola Colonial em 1906 (mais tarde, em 1926, Escola Superior Colonial e, desde 1974, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas). Através desta Sociedade, organizada em duas comissões de trabalho, a Africana e a Asiática, que correspondem aos espaços de efetiva ocupação territorial portuguesa, e das iniciativas que promoveu, que incluem o financiamento de expedições de exploração da África e da Índia portuguesas ou o subsídio ao intercâmbio científico, intentou-se fortalecer o aparelho colonial português. Ambas as instituições desenvolveram os seus próprios sistemas de comunicação com a sociedade civil e de circulação dos saberes que iam produzindo, sobretudo através de publicações especializadas – periódicos científicos e coleções (como a de Monumentos Inéditos para a História das Conquistas dos Portugueses em África, Ásia e América, promovida pela Academia das Ciências entre 1858 e 1935) – e do estímulo a permutas bibliográficas entre instituições, muito para além da escala nacional.
Ainda assim, Portugal estava longe de dispor das mesmas condições que os grandes centros europeus de orientalística. Se, em 1874, o entusiasmo de Vasconcelos Abreu o leva a animar as hostes portuguesas em direção ao progresso, em 1892 o entusiasmo esmorece e dá lugar à disforia, lamentando então o sanscritista que o meio científico propício ao desenvolvimento dos estudos orientais “ainda não se formou entre nós” (Passos dos Lusíadas, 1892, p. III). A falta de condições de trabalho, a insuficiência de coleções bibliográficas e museológicas e a carência de subsídios financeiros que determinariam o atraso do país em relação aos vizinhos europeus serão uma constante do discurso português a propósito da sua posição no mapa europeu dos estudos orientais.