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Alexandre Herculano atuou nos campos intelectual, artístico e político. É autor de um considerável conjunto de textos de história, assim como de poemas, contos, dramas, romances e ensaios políticos. Além de escritor e historiador, foi arquivista, jornalista, editor de documentos históricos e agricultor. Na política foi, por curto período, deputado e, depois, presidente de concelho, mas a sua grande influência exerceu-se sob a condição de historiador, polemista e ideólogo. O seu protagonismo como intelectual público liberal e o seu pioneirismo na aplicação dos meios da ficção histórica romântica ao passado nacional português fizeram do seu nome um marco recorrente tanto na história do pensamento político quanto na da literatura, no Portugal oitocentista. Outrossim, Herculano figurou e ainda hoje figura – de maneira por vezes exagerada e indistinta, mas ainda assim altamente significativa – como o pai-fundador do modo “científico” de se investigar e escrever história em Portugal. Não seria desarrazoado afirmar que a partir de meados da década de 1840, Herculano veio a ser uma espécie de celebridade, amplamente conhecida e reconhecida no mundo lusófono. “Até navios eram batizados com o seu nome” – registrou em 1863 o teólogo evangélico Rudolf Baxmann, após regressar de uma estadia missionária em Lisboa (“Ueber den gegenwärtigen Stand”, 115-116). “Havia em Portugal um homem que era ouvido como um oráculo” – reconheceu Teófilo Braga em 1880 (História do Romantismo em Portugal, 219-220). Não seria difícil preparar uma lista com dezenas de confirmações similares. É talvez suficiente indicar que, post-mortem, a significância atribuída à persona de Herculano indica uma elevação à categoria dos que na memória e na cultura portuguesas dispõem do estatuto da glória (sobre o tema geral, ver Lilti, A invenção da celebridade, 13-17; 145-165). Evidencia-o de modo conclusivo a transladação dos seus restos mortais para um imponente túmulo no Mosteiro dos Jerônimos em 1888, o mesmo local onde jazem reis do século XVI, bem como Vasco da Gama, Luís de Camões e Fernando Pessoa. Alexandre Herculano ficou conhecido pelos seus dois prenomes, sendo que os seus dois sobrenomes, “de Carvalho e Araújo”, são frequentemente omitidos. Isso talvez guarde relação com as suas origens familiares relativamente modestas, pequeno-burguesas, embora marcadas por certa literacia cultural e ascensão social. Pelo lado materno, os seus antepassados estiveram ligados à construção civil, pelo menos desde que o seu bisavô trabalhara como mestre-de-obras na construção do Palácio e do Convento de Mafra. O pai de Herculano, por sua vez, filho de um comerciante de trigos, foi funcionário público, tendo atuado como fiel junto à repartição responsável pelos empréstimos públicos (Godinho, “Herculano”, 13-14; Nemésio, A mocidade de Herculano, 83-94). |
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