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Estabelecido o governo liberal ao final da Guerra Civil, Herculano é nomeado funcionário da recém fundada Biblioteca do Porto, onde adquire importante experiência arquivística. Lá participa em projetos de publicação de fontes históricas, em especial a da Crônica de D. Sebastião, de autoria de Fr. Bernardo da Cruz, editada em 1837 a partir do cruzamento de seis versões manuscritas. Pouco antes, Herculano publicara dois ensaios de cariz teórico sobre a literatura portuguesa e sobre estética literária, com os quais inaugurou a sua trajetória de polemista, e nos quais formulou uma agenda estético-política de intervenção na cultura nacional, já em linha com preceitos gerais do romantismo e do liberalismo (Macedo, A. Herculano: polémica e mensagem, 34-35). Herculano pediu demissão do posto de bibliotecário no Porto em 1836, insatisfeito com a linha política seguida pelo governo que resultou da Revolução de Setembro, que recolocou em vigor a Constituição de 1822. Era esta mais restritiva dos poderes monárquicos e mais amistosa aos princípios democráticos, se comparada à Carta Constitucional de 1826, que Herculano não quis abjurar – pelo menos até a solução de compromisso encontrada em 1838 (Canotilho, “As constituições”). Externou a sua contrariedade e reafirmou a sua lealdade à Carta num colérico panfleto poético-político que teria forte ressonância no mundo público de então: A voz do profeta (Reynaud, “Herculano, poeta profeta”, 29-35). A projeção obtida por esse escrito terá certamente facilitado o convite para que assumisse em 1837 a redação do semanário O Panorama, editado em Lisboa sob o patrocínio real e a inspiração da Penny Magazine londrina, pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis. Em 1838, também atuou como diretor e redator da parte não oficial do Diário do Governo (Baptista, A. Herculano Jornalista, 15; 22; 77). No mesmo ano, compilou parte da produção poética da sua primeira juventude em A harpa do crente (1838), obra editada pela tipografia da referida Sociedade. Herculano foi especialmente apoiado pelo rei-consorte D. Fernando II, que concorreu para que fosse investido no cargo de diretor da Real Biblioteca do Paço da Ajuda. Tal posição proporcionar-lhe-ia estabilidade financeira pelo restante da vida, além de uma casa nas imediações do seu principal local de trabalho. (Santos, “A. Herculano e a Biblioteca da Ajuda”; Serrão, “A. Herculano”, 434). Tendo O Panorama como principal plataforma de publicações e dispondo de facilidades para consultar documentos e livros abrigados nas bibliotecas reais, Herculano lança-se no final da década de 1830 como um polivalente operador da consciência histórica. Escreve inúmeros ensaios curtos sobre temas históricos e historiográficos, além de pequenos perfis de personagens da política e da cultura de diferentes épocas. Mas o seu trabalho rememorativo e pedagógico não se contém dentro dos padrões habituais da escrita factual, e ele passa a experimentar também com as possibilidades abertas pela nova ficção histórica, já popularizada noutros territórios linguísticos (Catroga, “A. Herculano e o historicismo romântico”, 42-44). Nos dez anos que vão de 1838 a 1848, escreve as pequenas histórias que viria a compilar em Lendas e Narrativas (1851), além de três romances históricos de maior extensão e complexidade: O bobo (1843; só publicado em livro em 1878 – se descontada a edição contrafeita que circulou no Brasil), Eurico, o Presbítero (1843-1844), e O Monge de Cister (iniciado em 1839-40, mas só concluído e publicado em 1848). Engaja-se também com a atividade teatral, muito estimulada a partir do setembrismo, escrevendo dois pequenos dramas históricos e colaborando em diversas iniciativas do recém-criado Conservatório Nacional (Cruz, “Política, resistência e arte”, 4-5). |
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