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Tomado em conjunto, o percurso formativo de Herculano não se enquadra no padrão característico da elite social portuguesa da época. Herculano nasceu em 1810, em Lisboa. Depois de aprender as primeiras letras sob a assistência do pai, frequentou o Colégio dos Oratorianos, mais ou menos, entre os dez e os quinze anos, e em seguida, provavelmente em 1825-26, foi discente da Academia Real de Marinha, onde recebeu instrução matemática. O plano de ir estudar à Universidade de Coimbra malogrou-se em razão de uma contingência familiar: o pai ficou cego em 1827 (“Autobiografia”, 25). Essa fatalidade colocou a família em dificuldades financeiras, o que certamente terá influído sobre a opção de Herculano pela instrução técnica oferecida na Aula do Comércio. A mesma contingência também será a razão pela qual frequentou, entre 1830 e 1831, o curso de diplomática da Torre do Tombo, o que era então condição para o exercício de profissões como a de arquivista ou tabelião. Neste segundo curso Herculano familiarizou-se com conhecimentos e técnicas que viriam a ser fundamentais para os seus posteriores trabalhos intelectuais (Nemésio, A mocidade de Herculano, 107-109; 145, 187-200; 335-342). Mais do que a instrução formal obtida nessas diferentes instituições pesou sobre a formação intelectual e estética de Herculano um relativo autodidatismo, relativo posto que intermediado pelos contatos com o mundo literário por ele estabelecidos precocemente. De uma maneira que os biógrafos jamais conseguiram explicar a contento, Herculano ainda antes dos seus 18 anos já travava relações com personalidades de relevo da cena cultural lisboeta. Participava do círculo literário e boêmio formado em torno do poeta e homem de teatro Francisco de Paula Cardoso, fidalgo conhecido por Morgado de Assentiz. Aí conheceu, entre outros, António Feliciano de Castilho, que posteriormente, ao lado do próprio Herculano e de Almeida Garret, seria uma das figuras centrais da chamada primeira geração dos românticos portugueses. Também pôde contar com a proteção da veterana poetiza Leonor de Almeida Portugal, a marquesa de Alorna, que uma vez comparou a Germaine de Staël pela sua germanofilia e pelo círculo literário formado em torno de si (“D. Leonor de Almeida”, 123). Sob o estímulo dessas e de outras personalidades, Herculano foi amadurecendo com a ajuda de leituras ecléticas cujos rastros se deixam seguir ao longo dos textos que escreveu ou traduziu na década de 1830. Afora vários dos principais autores dos cânones clássico e cristão, e de escritores renascentistas como Ariosto, Tasso e Camões, impactou-o a ficção histórica de Walter Scott, bem como a ensaística liberal-católica de François-René de Chateaubriand e de Hughes de Lammenais. Cativou-o também a poesia lírica de Alphonse Marie de Lamartine e, especialmente, a de autores alemães da segunda metade do século XVIII associáveis ao chamando Sturm und Drang, tais como Friedrich Gottlieb Klopstock, Gottfried August Bürger e Friedrich Schiller (Nemésio, A mocidade de Herculano, 236, 302-307; Reynauld, “Herculano, poeta-profeta”, 29). A sua afinidade com a estética romântica também se confirma fora do domínio das letras, por exemplo, na predileção por ele expressa (em testemunho concedido já na maturidade) pela pintura de John Martin e pela música de Vincenzo Bellini (“Herculano por ele mesmo”, 29). |
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