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Admitia, contudo, diferenciar grandes épocas na história de uma civilização particular o q, ue implicaria distintos campos de observação para o historiador: uma primeira época de agregação de elementos, em que uma comunidade não passa de um “ser mecânico”; uma segunda de organização em que a nação é um “ser biológico” e uma terceira, em se expressa em ideias e sentimentos colectivos, num pensamento (História da Civilização Ibérica, pp.212-213). Numa inspiração hegeliana, os heróis são vistos como aqueles que exprimem superiormente o espírito nacional. No caso da história portuguesa, Oliveira Martins sugeriu ao longo da sua obra diversas propostas para a sua divisão em períodos. Em qualquer dos casos, distanciava-se dos critérios meramente dinástico ou político. Na introdução à História de Portugal de Henry Stephens (1893), distingue três grandes épocas: “constituição”, “expansão” (de Aljubarrota a Alcácer Quibir) e “decadência” (daí ao séc. XIX) (S,C.Matos, Historiografia e memória nacional… 1998, 219-221). Outro exemplo da diversidade de pontos de vista que adopta é o Portugal Contemporâneo (1880), vasto fresco sobre o passado recente (1826 a c. de 1870), assente num conjunto muito variado de fontes (imprensa periódica, discursos políticos, livros de viagens, panfletos, cartazes, etc.), reúne diversos tipos de registo, da crónica de acontecimentos centrados em personagens históricas significativas com que logo se abre o livro I, até ao ensaio direcionado para uma reflexão profunda sobre a sociedade portuguesa e a sua história, passando pela história e por incursões antropológicas de grande interesse. Lembrem-se, a este último respeito, as sugestões que, a propósito da revolta popular da Maria da Fonte, nos dá sobre o matriarcado da sociedade minhota, em que “a mulher governa a casa e o marido; excede o homem em audácia, em manha, em força; ara o campo e jornadeia com a carrada de milho, à frente dos boisinhos louros”, fazendo ainda contrastar o “olhar alegre, quase irónico da moça garrida, luzente de ouro”, com a “fisionomia mole do rapaz, abordoado ao cajado, contemplativo, submisso, como diante dum ídolo” (Portugal Contemporâneo, III, p.52). Aqui, tal como noutras obras históricas, é evidente, ao longo da sua escrita, a multiplicidade de ângulos de observação e uma notável capacidade crítica de compreensão social. Particularmente interessante nesta obra marcante é que ela incide, em parte, numa época que o autor tinha vivido ou conhecido, directamente ou através da memória dos seus próximos. |
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