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Mas num tempo em que se afirmava um conceito de história positiva, história-ciência - fundamentada em documentos – tal como fora formulada na Revue Historique desde 1876 -, compreende-se que a historiografia martiniana suscitasse reservas. No entanto, Eça de Queiroz não deixou de sublinhar as qualidades do historiador como artista: a sua compreensão das movimentações conectivos de um modo realista (processo que aproximava de Zola). E elogiava as biografias históricas que Martins estava a compor, considerando-as “o maior serviço que neste século se tem feito a Portugal”, pois reabilitavam o patriotismo, reaportuguesavam Portugal. Nestas biografias do final da vida, a par de indiscutíveis qualidades literárias e ensaísticas, o historiador revelou empenho na pesquisa e utilização de fontes, nas quais procurava escorar as suas obras. Mas raramente essa qualidade lhe foi reconhecida (Vitorino Magalhães Godinho é uma das excepções). Durante todo o século XX, e hoje ainda, continuamos a topar duas linhas de leitura da obra historiográfica de Oliveira Martins: a daqueles que valorizam o contributo decisivo que deu para a compreensão e reflexão acerca da experiência histórica portuguesa – caso de Magalhães Godinho; e aqueles que são muito críticos relativamente à ausência de fundamentação de retratos físicos e psicológicos de figuras históricas e de passagens relevantes das suas narrativas não lhe reconhecendo sequer o estatuto de historiador – Oliveira Marques chega ao ponto de afirmar que lhe faltava “o autêntico conhecimento do passado, o contacto directo com as fontes, a prudência, a objectividade, o equilíbrio, em suma” (Antologia da historiografia portuguesa, vol.I, 1974, p.40). Juízo que não se poderá generalizar a toda a sua obra. É certo que o retrato que nos dá do rei D. Duarte é, em parte, não fundamentado - sobretudo no que respeita a sua ineficácia e indecisão na acção política (Luís M. Duarte, D.Duarte, 2005, p.21). E que a representação física, ética e política do infante D.Pedro tem muito do perfil de Antero de Quental, como notou em 1923 Sousa Holstein e confirmou recentemente Carolina Rufino (Rufino, O processo historiográfico de Oliveira Martins…2017), e do próprio Oliveira Martins que com ele se identificou. |
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