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E, também a este respeito, em divergência com os positivistas, marcava bem a ideia de indeterminação do devir: não fecha as narrativas da História de Portugal e do Portugal Contemporâneo com duas perguntas em aberto? E num texto de 1884 não topamos uma pergunta que o distancia inequivocamente dos sistemas teleológicos? “Quem pode determinar leis e descobrir razões científicas a tantos e tão complexos acontecimentos? (…) que vaidade não é querer determinar os motivos, prever as consequências, quando nos achamos perante o complexo inextricável dos instintos animais dos povos, dos seus instintos racionais, e das paixões dos homens (…)?” (“Teoria da história Universal”, Política e história II, 1884, p.7). Martins estava bem consciente das descontinuidades e rupturas (revoluções) no processo de evolução das nações. Admitia assim uma ideia de progresso não uniforme, com fenómenos de “paralisação” do desenvolvimento (dava como exemplo a China) ou mesmo de degenerescência (casos do Egipto ou da Polinésia). E embora considerasse a Europa o centro mais adiantado da civilização, admitia a emergência no seio dela de fenómenos regressivos (malthusianismo, infanticídio, alcoolismo, prostituição, poligamia, etc.), com a emergência dos “bárbaros do interior” e expressões de degenerescência – conceito muito em voga nos meios científicos da época, na psicopatologia (mas não só) logo importado pelas ciências sociais. Tal como Hegel, Martins via no curso da história na realização ideal teleológico da liberdade e aceitava à maneira evolucionista a ideia de que as sociedades ocidentais caminhavam necessariamente no sentido da democracia, ameaçadas pelas movimentações sociais das “plebes proletárias”. Mas não de um modo linear: o futuro próximo seria a retoma de um cesarismo socialista, protector dos desvalidos, como observava na Alemanha (“Teoria…”, Política e história I, pp.29-30). A civilização (no singular) dependia, a seu ver, entre outros fatores, da “capacidade psicológica da raça”. Não esquecia contudo a influência do meio, do factor religioso e o papel do acaso na mudança social, que aprendera em Cournot (As raças…, vol.I, 36). Por tudo isto, compreende-se a sua rejeição do conceito de uma história universal sistemática como a concebia o positivista Teófilo Braga, um amigo de juventude de quem depressa se afastou – do mesmo passo que se aproximara estreitamente de Antero de Quental numa profunda relação de amizade que foi também de alto valor crítico para os seus próprios trabalhos. Se havia civilizações específicas, independentes umas das outras, com características muito diversas e ritmos de desenvolvimento diversos, a história universal não passaria de uma quimera. E seria impossível periodizá-la (As raças… II, 273). |
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