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A respeito da sua estratégia narrativa na História de Portugal, Martins usaria mais tarde uma metáfora artística, aliás perfeitamente adequada ao carácter cinematográfico da sua representação do passado, alternando o retrato individual com o plano de conjunto: “pintura sintética e dramática da vida”, assim designaria mais tarde este processo (“Advertência”, A Vida de Nun’Álvares, 1984[1893], p.7). E referir-se-ia aos “episódios tragicómicos” com que representou a patologia da sociedade portuguesa oitocentista, no Portugal Contemporâneo (Id., p.9). Todavia, em qualquer dos casos, o historiador adoptava uma linguagem organicista em que a analogia entre a nação e um ser individual, orgânico e moral, é frequente – dir-se-ia uma alma ou consciência comuns. Veja-se o conceito de nação que adopta: “…aquele grémio de homens que adquiriu coesão orgânica, tradições, hábitos e vontade ou consciência comum, quer na sua constituição os fundadores tivessem, quer não tivessem afinidade étnica, e quer até ocupassem ou não ocupassem um lugar adequado”. Já o conceito de nacionalidade remete, no seu entender, para uma “base etnogénica”, forjada por uma “tradição de ascendência comum” (caso dos judeus ou dos ciganos, que a seu ver, não constituíam nações) (Política e economia nacional, p.44-45). Esta distinção não impede todavia Oliveira Martins de oscilar nas suas obras entre um conceito de nação política, nação consciência que resulta de uma determinação da vontade da sua elite (o povo, nas suas narrativas, figura geralmente em planos gerais, cenários não raro espectrais) e sugestões de um determinismo étnico que, aqui e ali, emergem como factor explicativo: por exemplo quando propõe a hipótese de uma “maior dose de sangue céltico” para explicar a diferença de carácter dos Lusitanos (História de Portugal, I, p. 6). Se é certo que rejeita a ideia determinista de uma unidade étnica nas origens da nação (compreende-se assim a sua crítica ao conceito de nação natural e étnica de Teófilo Braga), também é verdade que nas suas obras são frequentes sugestões que vão nesse sentido racialista (Idem, I, p. 6), porventura excessivamente sublinhadas mais tarde por António Sérgio. Mas a obra em que é mais evidente a sua permeabilidade ao determinismo étnico, aderindo inequivocamente à teoria racialista então em voga que advogava a superioridade dos povos arianos é As raças humanas. Ainda assim, Martins admitia aí a ideia de um progresso irregular, variável e assincrónico entre diferentes sociedades. |
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