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Nela se articula pois conhecimento e memória primária de acontecimentos (pelo menos os mais recentes, da década de 1860) com uma investigação documental e estudo alargados: vejam-se os valiosos quadros estatísticos que constam na 1ª edição da obra (e que lamentavelmente viriam a ser eliminados em edições posteriores). Pela obra de Oliveira Martins perpassa ainda um debate oitocentista: história ciência ou arte? Se em 1879, o historiador admitia um conceito de uma história-ciência, já em 1881 rejeita-o e caracteriza a história do lado da indeterminação, “da imaginação que vê, adivinha, pressente com um poder intuitivo, unicamente suscetível de reproduzir sinteticamente a realidade das cousas vivas” (“Da natureza e do lugar das ciências sociais”, Literatura e filosofia, pp.336-337). Classifica-a como “arte narrativa, literária”, que “narra e pinta, [enquanto] a filosofia define e explica”. Martins rejeita o determinismo: o curso dos acontecimentos não obedece a um sistema de leis (embora se possa topar em certos casos uma relação de causa-efeito). Todavia, “nada há (…) de permanente e fixo na sucessão das causas, e por isso se torna impossível de seguir uma dedução sistemática”. A comparação entre a sucessão dos factos e o curso de um rio num mapa geográfico, usada pelo historiador ilustra bem o seu pensamento: a continuidade é contrariada “pelos acidentes do leito, mas dirigido sempre pela inclinação geral da bacia em que corre”. O que não impede que, para além do aleatório, o historiador possa descobrir e definir “as influências e as relações, as causas e os efeitos (…), as tendências, por uma feliz aliança do raciocínio e da intuição” (Id., p.338). E que admita que a observação das criações racionais da humanidade, no plano das ideias, permita a “ciência do desenvolvimento racional, orgânico da sociedade” – que designa de “nomologia” (“Teoria…”, p.6). Em qualquer caso, em 1884, a sua ideia é muito clara: dada a diversidade de experiências de diferentes comunidades humanas, a história não pode ser tomada como ciência sistemática, é antes narrativa. E, por isso mesmo, seria impossível reduzir todas essas experiências a um “todo sistemático”. Advertência de grande utilidade ainda hoje, quando se pensam as possibilidades uma história global. |
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