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Já o retrato de D. João VI na História de Portugal, que à primeira vista parece reduzir-se a uma caricatura grotesca, ou a notável narração da fuga da família real para o Brasil baseiam-se em larga medida em fontes da época e em trabalhos de outros historiadores (Herculano e Luz Soriano, entre outros). E ao invés do que supunha Silva Cordeiro, a tão sugestiva História da República Romana (1885) não se limitava a seguir a História romana de T. Mommsen, fundamenta-se também em diversas fontes antigas: Valério Máximo, Suetónio, Cícero, sem esquecer fontes literárias, embora não raro as distorcesse (André Teixeira, As “fontes inexauríveis…, 2021). Há todavia um aspecto a que não se tem dado suficiente atenção (com excepção da modelar edição crítica da História de Portugal preparada por Martim de Albuquerque e Isabel Albuquerque): o cuidado por parte do autor em rever aturadamente os seus trabalhos e pontos de vista anteriores. Lembrem-se as sucessivas reestruturações a que submeteu o plano da Biblioteca das Ciências Sociais (Vakil, 1999, pp.64-74); a revisão da História de Portugal e do Portugal Contemporâneo tendo em conta diversas críticas que lhe haviam sido dirigidos (entre outras, a do informado Camilo Castelo Branco e de Eça de Queiroz, de Antero de Quental ou de João Lobo de Moura); a reelaboração de Os Lusíadas. Ensaio sobre Camões e a sua obra (versão original, 1872) em 1891, ou as diversas propostas de periodização do percurso histórico nacional que sucessivamente adotou. Não há dúvida, todavia, que as qualidades do prosador de largos dotes artísticos e imaginação poética (Sampaio Bruno, A. José Saraiva) sobrepõem-se, por vezes, às exigências do rigor histórico. Mas a multiplicidade de pontos de vista que sempre aflora em tão diversa reflexão teórica torna mais densa a compreensão do seu legado. Ainda hoje a obra de Oliveira Martins suscita interpretações e juízos tão desencontrados como nos finais de Oitocentos - sobretudo no que respeita à sua historiografia e ao pensamento social e político que deixou. O que permanece indiscutível é a indelével presença do seu espírito crítico entre nós, a fina lucidez da sua compreensão dos problemas portugueses do seu tempo. Que em larga medida permaneceram no século XX. |
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