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Pode então dizer-se que para Oliveira Martins a historiografia é sinónimo de literatura? De modo algum. Talvez por ter tido uma experiência não gratificante com o romance histórico (o esquecido Febo Moniz, 1867), e de ter sido leitor compulsivo de historiadores nacionais e estrangeiros como Guizot, Michelet, W.Humboldt, Ernest Renan, T. Mommsen, Carlyle, Macaulay ou Lafuente, Martins alimentava uma ideia negativa sobre o romance histórico: considerava-o um género pastiche. Prezava o sentido de autenticidade e de busca de verdade, assente num “saber solidamente minucioso” num “conhecimento exacto e erudito dos factos e condições reais, sob pena de, em vez de escrever história, inventarem-se romances” (“Advertência”, Os filhos de D. João I, 1891, p.9). O que não impede que tenha sido criticado por fantasiar factos históricos (Maurício, A invenção… 2005). Não deixa de ser surpreendente que uma das críticas mais lúcidas das suas obras (e muitas houve) tenha vindo da parte de um grande ficcionista, o seu amigo Eça de Queiroz. Em 1894, agradecendo-lhe a oferta de A Vida de Nun’Álvares, Eça notava a parecença entre figuras históricas retratadas neste livro e figuras políticas portuguesas da actualidade de então (que OM bem conhecera): parecenças entre o conde de Andeiro e o político progressista Mariano de Carvalho, entre D. Álvaro de Castro e as características modernas da figura do conselheiro. Eça distanciava-se também de certos pormenores de “detalhe plástico” e perguntava-lhe, tomando um exemplo significativo de A Vida de Nun’Álvares: “Que documento tens para dizer que a rainha num certo momento cobriu de beijos o Andeiro, ou que o Mestre passou pensativamente a mão pela face?... Estavas lá? Viste? Esses traços, penso eu, não dão mais intensidade de vida, e criam uma vaga desconfiança” (Eça de Queiroz, Carta a OM de 26.04.1894, Correspondência, II, p.261). |
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