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Mas já nessa obra se afirma a convicção da superioridade da civilização europeia que retomará em As raças humanas e a civilização primitiva (1881). Nesta obra e no Quadro das instituições primitivas (1883), inspirando-se na antropologia evolucionista da época (Spencer, Lubbock, Karl Vogt), Martins via nos selvagens um estádio de infantilidade e inconsciência em que dominavam a emoção e a violência sobre a racionalidade. Compreende-se pois que, no seu ponto de vista etnocentrista, embora fosse favorável à abolição da escravatura (cuja desumanidade condena), a considerasse como uma fase necessária e positiva de expansão individual e social (Norberto Cunha, Sobre a natureza humana…, pp.310-325). Para Oliveira Martins a história é, à maneira de Hegel, o teatro onde o espírito humano se revela. É expressão da consciência humana, mas também do Inconsciente que move os heróis no seu instinto, independentemente da sua vontade (conceito que colheu em E. Hartmann). O historiador parece por vezes contradizer-se, como diversos intérpretes da sua obra notaram. Mas mais pertinente do que registar contradições parece ser, como notámos noutro contexto, a coexistência de múltiplos pontos de vista (ou múltiplas vozes) na sua escrita, sem esquecer as diversas escalas que elegeu : nacional, peninsular, europeia, global. Tome-se como exemplo a complementaridade da História da Civilização Ibérica e da História de Portugal. Se em ambas é evidente a integração de uma pluralidade de métodos e saberes (geografia, antropologia, economia, ciência política, psicologia, história). Enquanto na primeira desta obras é evidente uma intencionalidade científica e teorética que procura assinalar grandes tendências de mudança histórica e movimentos colectivos numa escala peninsular, na segunda a perspectiva é de história nacional (Portugal como “molécula do organismo social ibérico”), seguindo o método narrativo de uma história-drama que privilegia acções individuais e quadros colectivos animados, passando do comportamento individual ao comportamento colectivo, do grande plano ao plano geral, à maneira de Michelet. Na História de Portugal, tal como no Portugal Contemporâneo, há para além de uma evidente dimensão ética associada ao velho tópico historia magistra vitae, uma intencionalidade realista: “apresentar crua e realmente a verdade é o melhor modo de educar” (História de Portugal, p.XII). |
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