Considerando “inseparáveis” a história e a geografia: “Não há história sem geografia, nem geografia sem história: uma dá-nos o elemento espaço, a outra o elemento tempo” (Girão, Lições, pp. 1 e 17). E assim continuará na sua rota de autor de textos e materiais para estudo como a Geografia de Portugal (1941), o Atlas de Portugal (1941) e a Geografia Humana (1946). Sem que neles descurasse o relacionamento orgânico entre História e Geografia que desde sempre cultivara. E que lhe terá servido para a proposta – que o governo aceitou – de divisão regional do País. A que não faltaram críticas e objecções: quer por parte dos que entendiam mal delimitadas as regiões físicas como pelos que entendiam que as relações entre as comunidades locais deveriam ser respeitadas. Não aceitando a posição apresentada por Lautensach, pois que “Estado ou região politica é coisa completamente diversa, e por vezes antagónica, de região natural” (Girão, Geografia, p. 432).
A Faculdade de Letras de Lisboa, depois do falecimento de Silva Telles (1930), também tardou a encontrar um corpo docente de geografia devidamente habilitado. Luís Schwalbach tinha mais de jornalista do que de geógrafo, mas talvez não apreciasse a proximidade de colegas mais bem preparados. Pelo que Orlando Ribeiro, doutorado em 1936 só depois de ter sido leitor de Português em Paris (1937-1940) e de ter estado como professor em Coimbra (1940-1942) veio a ocupar cátedra em Lisboa (1943). Para Orlando Ribeiro, as relações entre Geografia e História encontram-se devidamente balizadas. “A terra de um povo já não é um simples dado da Natureza, mas uma porção de espaço afeiçoado pelas gerações onde se imprimiram, no decurso do tempo, os cunhos das mais variadas influências. Uma combinação, original e fecunda, de dois elementos: território e civilizações.” E mais adiante: “Dentro do largo indeterminismo das acções humanas, o território sustenta e condiciona a história” (Ribeiro, Introduções..., p. 19). Com alguma modéstia (mais ou menos autêntica) chega a dizer de um tema de História e Etnologia que “ganhará porventura em ser visto por quem possui alguma experiência da terra portuguesa e, muitas vezes, forrageou no trabalho alheio materiais para compreender, através do passado, traços fundamentais da sua originalidade humana.” (Ribeiro, A formação..., p. 12). E noutro passo, em memórias: “A Geografia, em tudo o que toca ao homem, era como uma maneira de ver e sentir o que da História persistiu até nós.
Nunca mais deixei de associar estreitamente as duas ciências e, com tudo o que aprendi, continuo a pensar que, sem uma profunda indagação do passado, a visão da maior parte dos factos da Geografia humana permanece superficial e incompleta.” (Ribeiro, Memórias..., p. 73).