Em que segue uma metodologia muito próxima da que Godinho iniciara no estudo de Marrocos, e experimentara ainda aplicar às Canárias. Metodologia em que história e geografia, como economia e etnografia se misturam em interdisciplinaridade e recíproca influência. Tendo na sua tese Le Portugal Méditerranéen à la fin de l’Ancien Régime (1966) mostrado a relevância do “colectivismo agrário” nos finais do séc XVIII e princípios do século XIX no Portugal mediterrâneo.
Também em Coimbra, e por parte de historiadores mais actualizados, a geografia se instalou como uma necessidade para as explicações que buscavam. Assim ocorreu com António de Oliveira e com Luís Ferrand de Almeida. Aquele procurando construir a realidade coimbrã do século XVI, este estudando com profundidade as questões relacionadas com as fronteiras meridionais do Brasil e depois a Bacia do Prata – “porta aberta para as vias fluviais que permitiam o acesso a regiões do interior do continente” (Almeida, “A Colónia”, p. 163) e a instalação, percurso e agonia da Colónia do Sacramento. António de Oliveira não se esquece de avisar na introdução da sua dissertação de doutoramento: “Os estudos iniciados têm por centro dois espaços: a cidade de Coimbra e o seu alfoz. Predominantemente. Zonas mais vastas, os quadros natural e geográfico em que se integram não podem ser excluídos.” (Oliveira, A vida, p. 3). Luís Ferrand de Almeida, entre outros estudos onde o conhecimento da terra e dos condicionalismos naturais estão sempre presentes nunca esquece de assinalar a presença dos grupos humanos em paisagens concretas. Não por acaso estudou e apurou alguns notáveis aspectos da introdução e difusão do milho maís em Portugal, onde se destaca a leitura atenta da obra de Orlando Ribeiro, além naturalmente das dos historiadores de ofício. Mas não se pode esquecer o excelente estudo que titulou Aclimatação de plantas do Oriente no Brasil durante os séculos XVII e XVIII. Que implicou o conhecimento e a explicação das condições naturais que permitiram essas transferências botânicas de enorme repercussão no Mundo – e não só no Império português.
Talvez por influência das escolas francesas de história e de geografia a atenção de historiadores e de geógrafos se generalizou e instalou na investigação – nem sempre tanto quanto devia (para um e outro dos campos de trabalho). Fernand Braudel condensou: “A nossa sorte está sempre ligada à terra. Por muito lenta que seja esta história de base, ela é uma história, uma realidade da vida.”