Por isso também em Oliveira Martins a geografia não ajuda ou concorre para a história. Como apontou António Sérgio (muitos anos depois) essas páginas iniciais formam “um quadro admirável […] mas de todo desligado da narrativa histórica, e que nada contribue para a inteligibilidade desta” (Sérgio, História, p. 51).
A falta desse saber geográfico constituído e autonomizado está evidente na obra sobremaneira inovadora de Alberto de Sampaio. Conhece e refere duas obras de Bernardino A. Barros Gomes, Condições florestais de Portugal (1876) e Cartas elementares de Portugal (1878) – com que se inaugura a geografia científica em Portugal (Girão, “Desenvolvimento”, p. 532) –, além da Geographia de Gerardo A. Pery (1875) e da Nouvelle Géographie Universelle de Elisée Reclus (1876). (Sampaio, Estudos, pp. 458, 460, 485-89). Mas o que se destaca principalmente nos seus estudos redigidos entre 1880 e 1908, e em especial em A propriedade e a cultura do Minho, é a observação própria das terras – pode dizer-se de paisagens –, excelentemente desenvolvida e aplicada. Com conhecimentos rigorosos sobre os solos e sobre as condições climáticas e mesológicas que não desmereceriam de um geógrafo. (Sampaio, Estudos, vol. I, pp. 460-469). Com o que supre a falta de um saber já publicado.
Nos finais do século XIX e princípios do século XX entre os historiadores não parecia que os factores geográficos estivessem no centro das preocupações, talvez pelo relativo atraso desses outros conhecimentos. Que até à criação das licenciaturas em Ciências Histórico e Geográficas nas Faculdades de Letras de Lisboa e de Coimbra (1911) não tiveram cultores para formar escolas e impulsionar as investigações e a escrita desses saberes. Mesmo depois disso foi difícil que os conhecimentos geográficos se impusessem, pois de naturalistas professores das faculdades de Ciências e de contratados sem formação especial se valeram os cursos, que geógrafos havia apenas o médico Silva Telles, que desde 1904 era professor do Curso Superior de Letras e continuou a sê-lo na Faculdade de Letras depois de 1911. Devem-se-lhe as primeiras sínteses sobre a geografia de Portugal, em 1908, 1924 e sobretudo, 1929. No entanto, muito sucintas e sem bibliografia. Era apenas um começo.