Que não sendo em rigor um geógrafo dedica muitas das páginas iniciais dos seu estudo sobre Os povos primitivos da Lusitânia (Geografia, Arqueologia, Antropologia) à situação e características físicas do território onde virá a ser Portugal. Com exageros inaceitáveis, como o que o faz afirmar que “o velho génio da independência” vibrava “já nas velhas gentes dos castros”! (Corrêa, Os povos, p. 382). Magalhães Basto ainda iniciou promissores trabalhos de índole geográfica (Basto, A fronteira) de que depois desistiu dedicando-se à história, em especial do Porto. Foi um “geógrafo a quem o obscurantismo, extinguindo a Faculdade de Letras do Porto, cortou a carreira” (Ribeiro, Opúsculos V, p. 307). Por isso pouco desenvolvidos, os estudos geográficos no Porto não tiveram sequência com a extinção da Faculdade em 1931.
Porém da parte dos historiadores a atenção à geografia vai sobretudo desenvolver-se a partir dos trabalhos de Jaime Cortesão. Que afirma, logo em 1930, “que o determinismo das condições naturais, sendo por demais relativo, nunca poderá volver-se numa fatalidade geográfica” (Cortesão, “O problema”, p. 227). Disciplina a que sempre dará atenção e utilizará criteriosamente nos seus trabalhos, quer nos iniciais sobre Portugal e a expansão ultramarina, quer depois e principalmente sobre o território e a história brasileira. Para Cortesão há que considerar no território português “a profunda harmonia numa rica diversidade e a perfeita polarização dos elementos em função atlântica.” E acrescenta: “Zona de complexo contacto entre elementos geográficos. Acrescido ainda por aquela convergência dos caracteres, esse território favorecia a criação de um regime económico fundado conjuntamente sobre a exploração da terra e a actividade e comércio marítimos, e possuía, por consequência, grandes possibilidades de germinação política.” Porque para Cortesão a base económica da nacionalidade estava no comercio marítimo à distância com base na agricultura.
Por isso e confessando ocupar-se mais da história do que da geografia, não hesita em afirmar “que é inteiramente impossível compreender as origens da Nação sem as estudar nas suas profundas relações com o território, bem como toda a sua história nas conexões com a geografia do Atlântico e dos dois mundos que lhe limitam a bacia, e, quase poderíamos dizer, com a geografia universal” (Cortesão, “O problema...”, pp. 234 e 238).