“Em vez da tradicional “moldura” geográfica a servir de introdução logo esquecida, a história considera a acção dos homens em cada época em relação com o espaço concreto (e não apenas um mapa de localizações de topónimos), busca como que fazer geografia humana retrospectiva (Roger Dion) ou geohistória (Braudel), isto é, reconstituir as paisagens de então e as formas que revestem as relações dos homens com elas.” (Godinho, “Sobre”, p. 147). Sempre apoiado nas orientações cartográficas de Jacques Bertin que propunha estudasse quem com ele trabalhava. Também com longas estadias em França, Luís de Matos e Joaquim Barradas de Carvalho fizeram as suas pesquisas em história da cultura que não dispensavam a geografia. Porque quer a literatura latina da expansão, quer o aprofundar do Esmeraldo de situ orbis de Duarte Pacheco Pereira implicaram o estudo de terras e mares que só a ciência geográfica podia satisfazer e sustentar.
Na Faculdade de Letras de Lisboa Virgínia Rau inicia a sua carreira estudando a Idade Média: em 1943 são as feiras; passa depois à investigação sobre as sesmarias (1946) para avançar para um outro período depois com A exploração e o comércio do sal de Setúbal – estudo de história económica (1951), além de inúmeros artigos e colaborações dispersas. Se inicialmente ainda prestou alguma atenção à pré-história e à geografia mantendo “intenso convívio” com geógrafos (Ribeiro, Introduções, p. 129, n. 6) – a ponto de ter redigido com o geólogo G. Zbyszewski o livro guia do Congresso Internacional de Geografia de 1949 relativo ao Ribatejo e à Estremadura – foi essa preocupação que abandonou. Apesar da proximidade que manteve com Orlando Ribeiro. Jorge Borges de Macedo só parece ter atentado mais para a geografia com o estudo sobre a indústria portuguesa (1965), que inevitavelmente obrigava à explicação das posições que os diferentes estabelecimentos iam escolhendo. Mas mesmo nos estudos sobre a política externa não parece ter dado o merecido destaque à geografia. O seu escopo virava-se para a história cultural e diplomática. Também para A. H. de Oliveira Marques a geografia tem o seu papel no raciocínio e construção históricos, como bem se destaca na tese (que não lhe permitiram defender) sobre a Introdução à história da agricultura em Portugal. A questão cerealífera (1962). Sempre que há que lidar com o meio natural o recurso ao conhecimento geográfico se impõe.