Por um autor bem preparado que apesar de uma obra pouco extensa tem sido considerado como o iniciador da geografia científica em Portugal. (Ribeiro, “Silva...”, pp. 160-161). Um outro professor do Curso Superior de Letras, sem ser rigorosamente um historiador, se destaca no modo como considera a história e a insere no conjunto das ciências sociais: Zófimo Consiglieri Pedroso. Todo “o facto histórico se acha ligado aos phenomenos biologicos, chimicos ou physicos por milhares de relações. É o homem, unidade e factor elementar da historia, quem estabelece esta relação. Pertencendo, como individuo, ao dominio da antropologia, e, como ser social ao domínio da sociologia, as influencias que sobre elle actuam como animal vão reflectir-se nos factos históricos em que elle entra como homem. Por isso os climas, as raças, os alimentos, a posição geographica, a altitude, a natureza do solo, etc. etc., todas as circumstancias emfim que directa ou indirectamente teem uma acção qualquer sobre a natureza physica do homem, entram como elementos modificadores na historia.” (Pedroso, Compendio, pp. 1-2).
A criação da licenciatura em Ciências Históricas e Geográficas em 1911 (Amaral, “Geógrafos”, p. 69), leva também a que se inicie uma reflexão sobre a natureza científica da geografia – sobre a história não havia dúvidas , impregnada que estava do saber e das teorias positivistas. A junção de história e geografia vinha já do ensino secundário, onde havia exames de Geografia, Cronologia e História. Mas logo em 1915 sai o escrito de Silva Telles sobre “O conceito scientífico da geografia”, seguido em 1917 de “A geografia moderna. Evolução – conceito – relação com as outras ciências (Ensaio de síntese)” de Aristides de Amorim Girão. Este, recém-formado em História e Geografia, considera que em Portugal havia pelo menos 50 anos de atraso no cultivo da disciplina científica: “Nada ou quase nada havia também sobre geografia no nosso País.” (Boletim, p. 3). Ambos os geógrafos procurando deslindar um percurso e firmar a geografia explicativa – interpretativa mais tarde, para Leite de Vasconcellos (Vasconcellos, Etnografia, I, p. 61) –, ultrapassando a velha geografia descritiva. (Girão, “A geografia”, p. 318). Para o que Silva Telles procura afastar de todo a geografia da história: “O geógrafo é essencialmente um naturalista. Emquanto o historiador procura instruir-se únicamente sôbre o local onde a história se desenrola […]. O local é um meio para o historiador, é a séde onde os factos humanos se sucedem, para o geógrafo pelo contrário, é o fim e significa um produto lógico da natureza.” (Telles, “O conceito”, p. 119).