A Amorim Girão sucederá em 1962 na cátedra de geografia de Coimbra Alfredo Fernandes Martins, doutor desde 1949, que expressou com clareza o que pensava: “Não nos iludamos, buscando no meio físico a interpretação total dos factos históricos, mas diga-se, com Vidal de La Blache, que se tal pretensão é ilegítima, “também não seria mais razoável prescindir da Geografia na explicação da História.” (Martins, “À Guisa...”, pp. 9 -10). E a ele e à sua escola se fica a dever uma notável integração dos conhecimentos históricos com os conceitos e análises geográficos. Cujo exemplo deu em notável opúsculo que dedicou à história e geografia – ou geografia e história – da sua Coimbra natal. (Martins, Esta...). Como ele próprio diz, em proémio à tradução do fundador trabalho de La Blache, “que não são estes ou aqueles factores geográficos que poderão auxiliar a interpretação da História, mas sim o estudo geográfico das relações do homem com o meio.” (Martins, “À Guisa”, p. 13). Assim, geógrafos mais atentos à história – sabendo usar da história na construção geográfica – se destacam depois dos trabalhos e actividade investigativa de Orlando Ribeiro. Veja-se o caso de José Manuel Pereira de Oliveira, que trabalhou de perto com Fernandes Martins, e que não hesitou em escrever: “A geografia humana não pode legitimamente prescindir da história no seu processo teorético.” (Oliveira, Trabalhos..., p. 419). Ou, de outro modo, e a propósito da obra de Aristides Amorim Girão: “uma geografia que quer deixar de ser meramente descritiva para, ganhando foros de científica se afirmar explicativa, tem de mergulhar as suas raízes no conhecimento do passado.” (Ibidem, p. 413). E foi assim que procurou interpretar e explicar o espaço do Porto urbano (Oliveira, O espaço...).
As novas correntes historiográficas que se afirmam nos anos 50, em grande parte originadas ou inspiradas nos investigadores ligados aos Annales parisienses, não ignoram o meio. Como os geógrafos do post-guerra não descuram a história. Assim ocorre com o americano Dan Stanislawski ao estudar Portugal (1959) e o Algarve (1963). Porque, como já foi dito, a “nova história é, em larga medida, filha da geografia.” (Hervé Couteau-Bégarie, apud Silbert).
O historiador francês Albert Silbert, que fora discípulo de Marc Bloch, afirma sem hesitações: “Para esta geografia, preocupada antes de mais com as relações do homem com o meio natural, as condições históricas da distribuição das paisagens e das actividades eram muito importantes.” (Silbert, “Modernidade...”, p. 327).