Fundada em 1875, a Sociedade de Geografia não promoveu o estudo e a escrita de obras geográficas sobre o território continental. O seu objectivo orientava-se para os espaços coloniais, que importava desbravar e conhecer para os dominar. Para o que foram de importância especial os militares que estudaram as colónias em comissões científicas e de imposição armada aos naturais pelo colonizador europeu. Espaços que até então estavam insuficientemente percorridos e mal descritos (Guimarães, A Sociedade...). Serpa Pinto, Roberto Ivens, Brito Capelo são os nomes mais conhecidos dos expedicionários que tentaram devassar o interior da África. Enquanto isso a geografia em Portugal tentava constituir-se, sem que o Boletim da Sociedade de Geografia desse sinais dessa inovação (Lautensach, Bibliografia, pp. 1 e 15).
Oliveira Martins, que tanta atenção deu às Ciências Sociais no seu conjunto, não terá sido dos mais interessados no saber geográfico. No entanto, nem por isso deixa de antepor uma breve introdução geográfica à História da Civilização Ibérica que depois prossegue na História de Portugal. Sumária, talvez pela insuficiência desse saber como por considerar a História de Portugal como resultante da vontade de independência dos barões de Entre-Douro e Minho como fizera Herculano. E insiste em que a “causa da separação de Portugal do corpo da monarchia leoneza não é obscura, nem carece de largar divagações para definir-se: é a ambição de independência do governador do condado, que o tinha do rei suzerano.” (Martins, Historia, I, p. 14). Assim, Portugal não “obedece na sua formação ás ordens da geographia: os barões audazes, ávidos e turbulentos são ao mesmo tempo ignorantes de theorias e systemas. Vão até onde vae a ponta da sua espada: tudo lhes convem, tudo lhes serve, comtanto que alarguem o seu dominio” (Martins, Historia, I, p. 17). Em uma Historia de Portugal de Henry M. Stephens cuja tradução prefaciou, surge negada qualquer importância do meio natural para explicar a independência política. Aí se lê: “A Nação Portuguesa é um produto da sua historia: isto dá á Historia de Portugal um valor eminente. Geographicamente esse pequeno reino é um retalho integral da peninsula iberica, sem limites naturaes que permitam distinguil-o da maior porção da mesma peninsula, chamada hoje a Hespanha, nome que também ainda hoje, como nos tempos antigos se applica a toda a Península” (Stephens, Historia, p. 2).