Concluindo: “Da estreita penetração entre Terra e o Mar vai, pois, nascer o Português, com os seus modos de vida típicos, o seu carácter, o seu idioma, a sensibilidade religiosa e as expressões artísticas, flor suprema de uma espiritualidade própria.” (Cortesão, “Causas...”, p. 251). Para insistir anos volvidos na importância da posição do território por “constituir a avançada atlântica e mais ocidental de duas penínsulas: a europeia e a hispânica” (Cortesão, Os descobrimentos, vol. I, p. 191). Destaque para a geografia mas relevância para a história.
Publicado em 1931 – embora redigido em 1928 – será o artigo de Hermann Lautensach “A Individualidade Geográfica de Portugal no conjunto da Península Ibéria”, saído no Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, e que encontrou bastantes objecções. Porque ao contrário de Ferraz de Carvalho e de Amorim Girão defende que em termos físico-geográficos a imagem de Portugal se encontra “nitidamente definida.” Imagem que é “a de uma região litoral, na orla ocidental da Ibérica, fortemente influenciada pelo oceano constituindo ao mesmo tempo uma região de transição das formas nórdicas […] para as formas meridionais, subtropicais.” Em relação ao centro castelhano concede que a transição é lenta. E, retomando a posição defendida por Silva Telles, insiste em que “o que constitui o fundamento mais sólido da autonomia política de Portugal foi a vantagem (de que a Holanda gosou egualmente) de situação marítima na orla do Atlântico, caracteristica esta que determinou por igual o seu aspecto físico-geográfico como o político” (Lautensach, “A individualidade...”, pp. 382-383 e 187). Com o que se instala a divergência de opiniões quanto à fundamentação geográfica – a histórica sempre reiterada nunca será discutida – da independência política do território português.
Damião Peres, na obra clássica Como nasceu Portugal (1938), depois de passar em revista as várias opiniões, umas propondo motivos geográficos (e não só pois também há a considerar imperativos étnicos, linguísticos, culturais e histórico-administrativos), conclui com uma citação de Anselmo Ferraz de Carvalho: Portugal “é destacável dos outros da Península” (Peres, Idem, pp. 28 e 38). Muitas dessas opiniões não são de geógrafos nem de escritores com conhecimentos sérios de geografia.