Mas Sérgio, que não era um geógrafo nem um historiador mas um excitador de intelectos, soube fazer acompanhar o seu texto por alguns esquemas desenhados propositadamente, que servem à lição que explana (não se pode ignorar que Sérgio tinha formação de oficial da armada e que não chama mapas aos esboços que apresenta). E logo na introdução geográfica declara que não aceita que “os caracteres geo-físicos da nossa terra expliquem a existência da unidade política a que se dá o nome de Portugal.” Porque, em “tôda a Europa da Idade-Média, os novos Estados que se então formaram nos parecem produtos da vontade dos chefes e da classe guerreira que os acompanhava, sem base racial, ou nacional, ou tribal.” (Sérgio, História, p. 43). O que lhe permite avançar a sua tese de que o que releva é a posição do território no conjunto da Península, destacando-se os “portos para a actividade marítima-comercial europeia e o valor das costas e das condições do clima para a obtenção da riqueza tirada ao mar (pescarias, sal).” (Sérgio, História, p. 42). Que será a tese principal que Sérgio procura defender, e que tantas iras causou aos adversários políticos apegados a uma monarquia agrária de ressonâncias integralistas. Porque Portugal, insiste, “só foi fornecedor de primária importância no que toca aos produtos de exploração do mar: o peixe e o sal.” “Os povos setentrionais precisavam de sal, e não estavam em condições de o obter do mar; o clima dos Portugueses, ao contrário do dêles, era um clima ideal para a produção salina: logo…” (Sérgio, Em tôrno, pp. 43 e 51). De certo modo a posição de Sérgio relaciona-se com a exposição de Silva Telles – companheiro na redacção do Guia de Portugal em 1923-1924. Para Sérgio, que não é nem geógrafo nem historiador, há que usar “noções geográfico-históricas que auxiliem a compreensão de certos casos da História e onde a Terra e o Homem nos apareçam unidos como factores correlativos da evolução social […].” (Sérgio, História, p. 51). Pelo que Orlando Ribeiro afirmará que as “relações da história com a geografia estão correctamente colocadas – assim o autor cumprisse o programa que anuncia.”(Ribeiro, Introduções, 147).
Nos anos 30 e 40 afirma-se o magistério de Aristides de Amorim Girão em Coimbra. Logo em 1936 publicando umas interessantes Lições de Geografia Humana, fazia uma “sugestiva interpretação geográfica da história, e aplicar ao mesmo tempo uma rigorosa observação à análise dos fenómenos sociais.”