Descobrimentos e expansão portuguesa, História dos
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Consumada (1822) e reconhecida a independência do Brasil (1825), as possessões portuguesas na África – sobretudo estas – começam a ser tidas como herança sagrada da pátria (e portanto património intocável) e como solução económica para as dificuldades presentes de Portugal. Como escreverá em 1882 Oliveira Martins na História de Portugal (3ª ed.) “...só á custa de recursos coloniaes poderemos talvez satisfazer as multiplas exigencias da organisação economica, scientifica e moral, hoje indispensáveis á existência de uma nação.” Era também opinião de um empenhado colonialista de Novecentos, Luciano Cordeiro, que a África “equatorial podia ser-nos um outro Brazil e que era uma immensa dôr ver o tempo que se tem perdido.” (Boletim da S.G.L., nº 1, 1876) Presença colonial que assim se tinha por continuada e como vinda desde os séculos de Quatrocentos e Quinhentos. Uma longa permanência que justificava a posse presente. Cuja primazia e cuja continuidade tinha de ser posta em evidência perante os desejos e ambições dos outros Estados europeus. Pelo que a história se tornava um elemento de prova fundamental. “Argumentação histórica, diplomacia e política africana andavam então a par e passo. […] a história assumia a função pragmática e instrumento do Estado nacional na sua política externa.” (S. C. Matos, “A historiografia portuguesa dos descobrimentos...”, 1998, p. 56).
Provém da criação e afirmação da Academia Real das Sciencias de Lisboa esse interesse pelas questões do conhecimento da história da expansão, também referido como conhecimento do descobrimento geográfico. Porque, como assinala logo o Abade Correia da Serra, em 1790: “A Historia de Portugal não he para nos hum estudo indiferente, ou de mera curiosidade. Os feitos dos nossos maiores tiverão consequências taes que o género humano, que até aos mesmos estranhos, interessa conhecellos” (Collecção de livros…, tom. I, 1790, p. VII) Porém, será um pouco depois, em 1815, que surgirá a Collecção de noticias para a Historia e Geografia das Nações Ultramarinas. A erudição afirmava-se e documentos fundamentais para o estudo da época e dos feitos descobridores começam a ser editados. Com destaque para as iniciativas da Academia das Ciências (1812-1841). Desde cedo o conhecimento histórico – e as motivações de quantos por ele se interessavam – ficava sobretudo amarrado à lição de Herculano. Este defendera, com uma convicção contagiante, que o grande período da constituição da Nação fora a Idade Média.