Descobrimentos e expansão portuguesa, História dos
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“Em dois grandes cyclos me parece dividir-se naturalmente a historia portuguesa, cada um dos quaes abrange umas poucas de phases sociaes, ou epochas: o primeiro é aquelle em que a nação se constitue; o segundo o da sua rápida decadência: o primeiro é o da idade-média; o segundo o do renascimento.” Indo mesmo a considerar “todo o seculo decimo-sexto como um seculo de decadencia.” (Opusculos, vol. V, s.d., pp. 126-127). Datando das cortes de Évora de 1482 o início dessa catastrófica depressão colectiva. E insiste: “nem descobrimentos, nem conquistas, nem commercios estabelecidos pelo privilegio da espada, nem o luxo e majestade de um imperio immenso, nos pódem ensinar hoje a sabedoria social.” (Ibid., p. 135) Os descobrimentos, sem dúvida a gesta mais brilhante da existência colectiva, no entanto abriam para a decadência que afundaria a Pátria que assim desabaria nas mãos de Felipe II. Eram mesmo os descobrimentos, em virtude do absolutismo régio eliminador de liberdades cidadãs, a expressão dessa fatalidade.
O liberal frei Francisco de S. Luís, depois conhecido como cardeal Saraiva, nos anos de 1828-1834 de reclusão política – “forçado e penoso ócio” – na Serra de Ossa, reúne materiais e redige as primeiras e bem organizadas cronologias, com arrolamento de fontes e enumeração de personalidades de destaque na história da expansão. O operoso escritor arruma o que consegue averiguar num “Indice Chronologico das navegações, viagens, descobrimentos, e conquistas dos portugueses nos paizes ultramarinos desde o principio do século XV”. Apesar do “segredo”, pressuposto com que já lê a documentação e que a torna de complexa e exigente análise, multiplicam-se as dificuldades de acesso aos testemunhos que se mostram insuficientes para a escrita “em corpo de historia” da “serie das nossas emprezas ultramarinas.” (Saraiva, Obras Completas, tom. V, p. 48) Nesse Indice Cronologico limita-se a apontar sumariamente “os factos que nos parecêrão mais importantes, e collocando-os na sua ordem puramente chronologica, como para nos servirem de guia, quando quizessemos dar maior extensão ao nosso estudo, ou instruir-nos mais amplamente neste ramo da nossa historia, que reputámos de tanto interesse para o publico litterato, quanto glorioso para os Portuguezes.” (Ibid., p. 49) Provavelmente trata-se da primeira tentativa de apresentação global do que se sabia sobre os descobrimentos e feitos ultramarinos, de 1412 a 1811.