Descobrimentos e expansão portuguesa, História dos
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Essa falta de uma estruturada e autónoma história dos descobrimentos em Português e em Portugal vai ser em parte preenchido pela Geschichte des Zeiltalters der Entdeckungen (História da época dos descobrimentos) da autoria do Dr. Sophus Ruge (1831-1903) que assume assim um papel central na historiografia dos descobrimentos portugueses. Obra que não é apenas de destacar no panorama historiográfico: há nela uma importantíssima consideração da ciência geográfica e da sua importância para a História.
Porque logo no centro da indagação constante da obra, estão os “descobrimentos geográficos”.Ponto de partida essencial, pois que o “alargamento do horizonte physico conduz necessariamente ao alargamento do horizonte intellectual, e imprime o sello da virilidade intellectual ao povo que chegou a conquistar este horizonte.” (S. Ruge, Idem, s.d., p. 15) Visão eurocêntrica, “dos países habitados pelos povos cultos” (Ibid., p. 16), que se estendia até aos confins da China, como seria de esperar, que vai procurar o ponto de partida no que seria o Mundo antes das grandes correntes expansionistas europeias em finais da Idade Média. Os povos da parte ocidental centravam-se no Mediterrâneo, enquanto os da parte oriental – em redor do Índico – careciam de uma centralidade. As regiões frias do Norte e as desérticas a Sul não se integravam neste espaço. Espaço onde desde a Antiguidade o comércio se instala. E de “O Oriente do mundo antigo” passa-se para “A parte occidental do mundo antigo”. São revistas as “Primeiras Explorações”, em erudita visão do passado clássico, com especial atenção à movimentação dos povos Fenícios pelo Mediterrâneo.
Visão eurocêntrica, mas com um conhecimento e um notável desenvolvimento da história extra-europeia. Com envolvimento e invocação de matérias que raríssimas vezes surgem em histórias escritas no século XIX – sirva de exemplo a atenção dada à organização dos países mongólicos em meados do século XIII. O que lhe permite avançar mostrando os esforços missionários empreendidos a partir do papado. E por aí chegar à narrativa das viagens dos irmãos Polo e a outras viagens – reais ou imaginárias – que alimentaram a imaginação dos europeus ocidentais. Só depois dessa compreensão do mundo (que ocupa as primeiras oito dezenas de páginas) surge e se destaca no lado ocidental do mundo antigo, o príncipe Henrique, o Navegador. Em que reproduz as costumadas invenções de palácio e escola de marinharia em Sagres.