Descobrimentos e expansão portuguesa, História dos
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Quando quase tudo ainda se ignorava: “Os escritores nacionaes, que podíamos consultar eram poucos, incompletos, às vezes discrepantes em suas narrações, e sempre diminutos nas particulares noticias do seculo XV, que mais convinha indagar e apurar.” (Ibid., pp. 47-48) Sempre em exercício de caprichada erudição. Quase em simultâneo surgem os contributos do Visconde de Santarém, com o seu Atlas e com a publicação do recém-descoberto manuscrito parisiense da Crónica do descobrimento e conquista da Guiné de Gomes Eanes de Zurara, ocorrida em Paris, em 1841. E depois na famosíssima, e utilíssima, Démonstracion des droits qu’a la couronne de Portugal sur les territoires situés sur la côte occidental d’Afrique... Era necessária argumentação histórica, para justificar pretensões territoriais. Ambos os autores glorificando – e mitificando – a figura e a obra do infante D. Henrique. Visões racionalista e voluntarista, na mesma exaltando a personalidade e acção do príncipe. (M. I. João, O Infante D. Henrique…, 1994, p. 20) Desde logo tendo que destrinçar o real do imaginário e fazer frente aos que minimizavam os feitos portugueses. A prioridade portuguesa nas navegações para o antes desconhecido devia ser bem claramente afirmada e defendida.
Mesmo em obras de propaganda, a história não deixa de ter um papel central na argumentação despendida em tudo quanto se relaciona com as colónias. Assunto relevante nas vésperas de grandes decisões europeias – conferências de Bruxelas (1876) e de Berlim (1884-1885). Política e economia, sobretudo, embora sempre a partir de um relato histórico e tentando alargar o âmbito do conhecimento geográfico e histórico – muitas vezes dito histórico-etnográfico para obviar à falta de documentos sobre as populações africanas. Que agora interessava conhecer e não apenas explorar.
Sentia-se a necessidade de defesa do património colonial português em África através da justificação histórica – publicada e difundida para que chegasse ao conhecimento das potências europeias também interessadas – para que fosse diplomaticamente alcançada com eficácia. Havia mesmo que reforçá-la e fazê-la mostrada aos demais países colonialistas através de expedições de exploração terrestre (A. Guimarães, Uma corrente..., 1984). De algum modo a junção de ambas as linhas de defesa – a intelectual/histórica e a política – se harmonizam na Sociedade de Geografia de Lisboa.