As suas motivações são evidentes: o amor da terra, isto é, um patriotismo local bem arreigado que os desafia a escrever a sua história e memórias; a reivindicação da importância e valor da região ou localidade no contexto nacional, valorizando-se, inclusive, a forma como participaram nos grandes acontecimentos da vida da nação ─ a restauração, a luta contra as invasões francesas, a revolução liberal, etc.; o lamento em relação à incúria dos governos e dos serviços públicos em geral e a reclamação de melhoramentos indispensáveis para a terra, o que não deixa de aparecer em introduções e prefácios ou, na imprensa, a propósito da apresentação das obras. Os estudos regionais e locais contribuem, deste modo, para a construção de imaginários e identidades, mas também para legitimar reivindicações, propostas políticas e poderes de âmbito infranacional.
O século XX
A expansão dos estudos regionais e locais no século XIX justificou a elaboração de bibliografias sobre o tema. Assim, em 1900, para a exposição universal de Paris, Brito Aranha publica a primeira bibliografia das obras portuguesas que podem servir para o estudo das cidades, vilas, monumentos, instituições, tradições e costumes, etc., de Portugal Continental, das Ilhas dos Açores e da Madeira e das Possessões Ultramarinas. Eduardo da Rocha Dias continuou esse trabalho em anos posteriores (1903-06, 1908) e o funcionário da Biblioteca Nacional, António Mesquita de Figueiredo, fez um trabalho mais completo, em 1933. Contudo, ambos se circunscreveram ao território do continente português. Ao nível local, distinga-se a Bibliotheca Açoriana, publicada pelo incansável Ernesto do Canto, em 1890, onde se incluíam obras nacionais e estrangeiras concernentes às ilhas dos Açores. Por outro lado, surgem também as primeiras reflexões em torno das metodologias e da organização, mais sistemática, dos estudos regionais e locais. Manuel da Silva, em 1913, na Revista de História, apresenta o Schema d’historia local, numa linha de abordagem que contempla variados aspetos: a geologia, a antropologia física e o estudo das populações, a arqueologia, a etnografia, a legislação e a administração local, a estatística, a filologia, a literatura tradicional, as memórias e notícias locais, os documentos e arquivos, e por fim os monumentos e a arte.