O ideal que se persegue é de estudos muito abrangentes que poderíamos classificar de globais, não fora o facto de se tratar na verdade de estudos fragmentários, onde se coligem materiais de diversa índole sem um quadro teórico que permita a sua integração em termos compreensivos. Mais de uma década passada, em 1925, P. M. Laranjo Coelho, apresenta num congresso luso-espanhol a sua análise sobre as Vantagens do estudo das monografias locais para o conhecimento da história geral portuguesa e incentiva os estudiosos a desenvolverem este tipo de investigação. A propósito traça um roteiro breve do desenvolvimento desse género de trabalhos em Portugal e propõe o seu próprio plano que deve abranger “os factos essenciais para o estudo de uma localidade nos seus aspectos geo-físico, histórico, económico e social.” (Ob. Cit., p. 17-20). Encontramos nele a mesma ambição global, agora com uma sistematização e um desenvolvimento mais elaborados. A geografia, a demografia, a etnografia, a arqueologia e a história, nas suas várias dimensões económica, político-administrativa, artística e cultural, combinam-se para traçar um quadro geral das regiões e localidades. Em 1934, numas lições proferidas na Academia das Ciências, voltaria ao mesmo assunto, mostrando inclusive estar a par do que em França se fazia neste domínio (Monografias Locais na Literatura Histórica Portuguesa, 1935).
A preocupação com a recolha de informação para o conhecimento mais aprofundado da realidade do país tinha levado o ministro das obras públicas, comércio e indústria, António Alfredo Barjona de Freitas, a lançar um concurso anual de monografias das freguesias rurais, em 1909. O relatório em que o apresenta é explícito quanto aos objetivos que o orientam. Trata-se, afinal, de iniciar o tão necessário inquérito à vida económica e social da nação portuguesa a partir da unidade administrativa mais pequena e homogénea, com uma larga tradição histórica, que é a freguesia rural. No mesmo ano, a Universidade de Coimbra convidou o sociólogo Léon Poinsard para proferir conferências sobre os métodos de estudos das pequenas comunidades então usados no âmbito da ciência social em França. Daí resultaria uma publicação de divulgação do chamado “método monográfico” e uma obra de L. Poinsard, Le Portugal Inconnu, editada no boletim da sociedade internacional de ciência social, em 1910 (seria publicada tradução portuguesa em 1912).