De certo modo representativas desse tipo de história são as obras do olissipógrafo Júlio de Castilho (1840-1919) sobre Lisboa Antiga (Bairro Alto – 1879; Bairros Orientais – 1884-1890). Porém, o caminho vai sendo feito no sentido de uma história mais objetiva e a publicação dos Portugaliae Monumenta Historica (1º vol., 1856) não só traz documentos com interesse para a história local, mas também fornece um bom exemplo. A obra dirigida por A. Herculano vem na linha de trabalhos de académicos eruditos que pugnaram pela salvaguarda e divulgação dos documentos, como Bernardino J. de Sena Freitas que tinha publicado uma Collecção de memorias e documentos para a historia do Algarve (1846) e foi depois incumbido pela Academia Real das Ciências de organizar os arquivos nas ilhas de S. Miguel e Terceira. Na sequência desse trabalho deu à estampa uma Memoria Historica sobre o Intentado Descobrimento de uma Suposta Ilha ao Norte da Terceira nos anos de 1649 e 1770 (1845).
A valorização dos documentos aprofundou-se ainda com a divulgação em Portugal das correntes historiográficas da chamada “escola metódica” ou “positiva” e, no último quartel do século XIX, surgiram valiosas coletâneas documentais e histórias locais com preocupação crítica e de objetividade. Entre as publicações documentais refira-se o Archivo dos Açores (12 vol, 1878-1892), dirigido por Ernesto do Canto e publicado em fascículos, os Documentos historicos da cidade de Évora (1885-1891), organizados pelo arquivista Gabriel Pereira, e os Elementos para a história do município de Lisboa (15 vol., 1882-1911), efetuados por Eduardo Freire de Oliveira que também desempenhava o mesmo ofício na Câmara Municipal. No domínio dos estudos pode destacar-se: Viana do Castelo: Esboço histórico (1878), de Luís de Figueiredo da Guerra, em que combina o conhecimento de autores clássicos com o conhecimento de crónicas e tratados medievais e modernos e o domínio de documentos epigráficos, arqueológicos e documentais, existentes em cartórios e arquivos públicos e privados. No ano anterior, Alberto Pimentel publicara a Memoria sobre a historia e administração do Municipio de Setúbal (1877), que reúne variadíssima informação sobre a cidade e o concelho, com um valioso suporte documental. Também exemplar deste tipo de trabalhos mais eruditos e fundados nas fontes históricas são os Estudos Eborenses, de Gabriel Pereira, publicados em fascículos temáticos entre 1884-1894.