Entre os investigadores que foram publicando fontes primárias para a história local podemos referir a título de exemplo: Artur de Magalhães Basto, no caso do Porto; Maria Teresa Campos Rodrigues, para Lisboa; António Baião, em relação às fontes para a história do Algarve; António Gomes da Rocha Madaíl, a propósito das informações paroquiais setecentistas sobre Coimbra e da documentação da cidade e do concelho de Aveiro; Manuel Monteiro Velho Arruda sobre os documentos relativos ao descobrimento dos Açores. Na verdade, trata-se de um trabalho indispensável para poder ser feita a história, apesar de o trabalho do historiador não se esgotar nisso, como referiu V. Magalhães Godinho (Ensaios II. Sobre a História de Portugal , 1978, p. 92).
As monografias ao modo tradicional do século XIX continuaram a ser comuns. Um exemplo sugestivo é os Anais do município da Horta (1943), de Marcelino Lima (1868?-1961). Funcionário público, autodidata com formação liceal e fazendo parte dum conjunto de intelectuais que enriqueceram o panorama cultural da ilha do Faial no final de oitocentos, veio a interessar-se pela história local e genealógica. Nos anais, ele faz uma história total do concelho da Horta, no contexto da ilha do Faial. Naturalmente, começa pelo descobrimento da ilha e o povoamento. Refere-se, de seguida, à “governança” no período moderno, referindo os donatários, capitães-mor, juízes de fora e corregedores. Depois, relata o estabelecimento do concelho e todos os aspetos relevantes da vida municipal, das finanças, administração, regulamentos e posturas, aos edifícios e múltiplas facetas da organização municipal. A cidade da Horta também merece um extenso capítulo, bem como as questões militares e políticas, destacando as figuras de maior relevo localmente. Não esquece a vida económica e social numa visão realmente abrangente e que toca uma multiplicidade de assuntos. Termina com um relato das “horas trágicas”, onde inclui incursões militares, cataclismos naturais e um levantamento popular de 1862. Neste extenso trabalho utiliza as crónicas, os estudos, os relatos da imprensa e as fontes impressas, em particular o Arquivo dos Açores, mas também fontes inéditas do Tombo da Câmara da Horta.