É certo que outros municípios do litoral veriam as suas monografias locais publicadas nesses meados de Oitocentos, casos de Óbidos e Cadaval, ambos em edições datadas de 1856. Sintra tinha sido precursora em 1838, com a obra já referida. Mais para sul refira-se Beja (1847) e Sines (1850). No Centro, Coimbra e Castelo Branco (1853). No Norte, as Caldas de Vizela e das Taipas (1853 e 1854), ambas no concelho de Guimarães, e a Póvoa de Varzim (1851). Porém, na sua esmagadora maioria, as monografias locais publicadas em Portugal no século XIX são posteriores ao decénio de 1860 (vd., bibliografia de A. Santos Silva, 1995). Os seus autores eram apaixonados pela terra e pelos seus valores e não escondiam o orgulho de lhe pertencerem. À maneira romântica, viam no local a expressão mais genuína das raízes populares da identidade nacional. Não surpreende pois que muitas vezes estejamos perante narrativas apologéticas da pátria local ou, o que não é raro, exprimam um duplo patriotismo – local e nacional. Como sucedeu, numa outra escala e noutros contextos políticos em regiões espanholas como a Catalunha (J. Fradera cit. por J.Alvarez Junco, “Las historias de España”, in História de Espana, dir. J. Fontana e R. Villares, 2013, p.308).
Por sua vez, na Universidade de Coimbra, o professor José Frederico Laranjo propunha aos seus alunos que fizessem a história dos concelhos, segundo um esquema que contemplava capítulos sobre as origens e o desenvolvimento, a população, as indústrias, a Misericórdia, confrarias e estabelecimentos de beneficência, as associações e as instituições de crédito (Cit. Vantagens do estudo das monografias locais para o conhecimento da história geral portuguesa, 1926, p. 15). Daí resultaram pelo menos duas monografias publicadas, uma sobre o concelho de Serpa (José Maria da Graça Afreixo, 1884) e outra sobre Mesão-Frio (Álvaro Maria de Fornelos, 1886). Tudo se foi conjugando para uma ideia de monografia local que tipicamente devia englobar os múltiplos aspetos topográficos, geográficos, históricos, arqueológicos, económicos, artísticos e culturais que permitiam traçar um panorama do território e da vida das populações. Armando Malheiro da Silva fala de “monografia de tipo-contemporâneo”, caraterizada pela diversidade das abordagens em foco, mas também pelo “amor da terra e a apologia das suas virtudes” (“O Minho nas monografias (sécs. XIX-XX)”, 1991-92, p. 30).