As obras mais bem conseguidas não dispensavam, naturalmente, a consulta de arquivos e a recolha de documentos para fundar as suas narrativas, no que à história dizia respeito. No âmbito dos estudos regionais oitocentistas e do seu progresso nas últimas décadas do século, não se pode esquecer os trabalhos de caráter etnográfico que então tiveram uma considerável expansão e vieram a interligar-se estreitamente com a história. Podemos remontar ao interesse romântico pelo estudo das tradições e costumes dos povos que foram, posteriormente, desenvolvidos no âmbito das conceções sociológicas positivistas, com destaque para a obra de Teófilo Braga (1843-1924) sobre O povo português nos seus costumes, crenças e tradições (2 vols., 1885).
No domínio da história da literatura foram publicadas recolhas e estudos sobre o cancioneiro popular e os contos tradicionais portugueses que resultavam de pesquisas feitas em diversas regiões do país. Em Lisboa, esta linha de investigação etnográfica viria a ter um grande desenvolvimento com Adolfo Coelho (1847-1919) e, sobretudo, J. Leite de Vasconcelos (1858-1941), e no norte do país com o grupo que se reuniu em torno da publicação de Portugalia: materiaes para o estudo do povo portuguez, Ricardo Severo, (1869-1940), Rocha Peixoto (1866-1909) e Artur da Fonseca Cardoso (1865-1912), entre outros. A referência aos aspetos etnográficos ganhou um renovado interesse e profundidade no final do século XIX. O efeito conjugado do desenvolvimento das ciências humanas e sociais e as tendências culturais da época, neorromânticas e nacionalistas, conjugou-se para que as gerações finisseculares viessem enriquecer os estudos em domínios como a etnografia, a antropologia, a filologia, a arqueologia e a história. Os frutos brotaram já no século XX.
Não são também alheios ao desenvolvimento sociocultural do país, com o lento crescimento das classes médias, o progresso da educação, a expansão da imprensa regional e local e dos meios materiais suscetíveis de contribuir para que fosse possível produzir e publicar os trabalhos realizados. Os estudiosos locais eram muitas vezes padres, alguns bacharéis e autodidatas locais, professores, advogados, médicos, funcionários públicos, que faziam parte do restrito círculo dos notáveis das terras. Nalgumas cidades tinha sido possível criar associações e sociedades culturais com publicações periódicas, onde iam dando à estampa os estudos (Instituto de Coimbra, 1852; Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, 1881).