Em dois outros campos científicos, os estudos regionais foram inovadores e muito produtivos, no período em apreço: o campo da etnografia e da geografia humana. Em ambos se nota, nas melhores obras e autores, uma preocupação com a origem e as transformações históricas das realidades observadas no presente. A referência histórica aparece nos trabalhos do antropólogo Jorge Dias (1907-1973) sobre o comunitarismo agrário e os instrumentos agrícolas, mas é essencial nos estudos do geógrafo Orlando Ribeiro (1911-1997), cujo exemplo frutificou numa linha de investigação sobre “Geografia Histórica, Regional e Local” no âmbito do Centro de Estudos Geográficos, da Facultade de Letras da Universidade de Lisboa, fundado por ele no início dos anos 40. Refira-se a propósito os trabalhos de Raquel Soeiro de Brito, de António de Brum Ferreira e de Carlos Alberto Medeiros, dedicados a várias ilhas dos Açores. No que ao continente diz respeito pode citar-se o trabalho de Carminda Cavaco sobre a área oriental do Algarve e o de Maria Alfreda Cruz sobre a margam sul do estuário do Tejo.
Na mesma linha interdisciplinar e histórico-geográfica prosseguiu Jorge Gaspar, nomeadamente no seu estudo sobre “Os portos fluviais do Tejo” (1970). Nos anos 60, foram surgindo em Portugal sinais de uma renovação dos estudos históricos regionais e locais sob o influxo dos trabalhos mais especializados realizados no âmbito académico. O melhor exemplo veio de fora com o trabalho inovador de Albert Silbert sobre a história agrária das regiões da Beira Baixa e do Alentejo, apresentado na Sorbonne, em 1963, nas provas de doutoramento (Le Portugal méditerranéen à la fin de “Ancien Régime”, 1966). Silbert segue de perto as lições teórico-metodológicas de Marc Bloch para o estudo das regiões rurais e tem a preocupação de comparar as paisagens agrárias portuguesas e os sistemas de cultivo com outros já estudados nos espaços europeu, africano e americano. No trabalho de pesquisa o historiador francês contou com o apoio de estudiosos locais, nomeadamente de José Ribeiro Cardoso que tinha dirigido a obra Subsídios para a história regional da Beira Baixa, patrocinada pela Junta Provincial da Beira Baixa, e integrada no vasto acervo de publicações do Duplo Centenário.