Nos arquipélagos, foi a ilha que mais mobilizou o interesse dos estudiosos, apesar dos concelhos e das outras circunscrições administrativas não serem esquecidas. Por sua vez, o distrito, circunscrição administrativa criada em 1835, também não concitava o entusiasmo dos investigadores, tratando-se de uma unidade administrativa geralmente considerada artificial, mais um braço do poder central nas regiões do que uma realidade com significado para a identificação das populações. Finalmente, na base da escala espacial estão os territórios mais diminutos, as paróquias, posteriormente designadas freguesias, as cidades e vilas, os lugares. O local refere-se a uma parte delimitada de um território mais vasto que tem de ser construído enquanto objeto de estudo. O mesmo se pode dizer de outras escalas de análise espacial, cujo significado histórico-cultural depende, naturalmente, de fatores emocionais, de laços afetivos que se tecem através da relação com esse território e com a sua gente. Por razões óbvias, a maior parte dos estudos refere-se a espaços vividos, espaços de sociabilidade e de proximidade entre as populações que têm neles as suas raízes e vivências. Assim se explica que neste género historiográfico tivessem um papel muito importante curiosos, amadores e figuras das elites cultas locais que se distinguiam na vida pública das suas regiões e localidades.
O século XIX e os antecedentes
Podemos remontar os estudos regionais e o interesse pela história local ao século XVI. Basta recordar as Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso, a Descrição da cidade de Lisboa, de Damião de Góis, ou a História da Antiguidade da cidade de Évora, de mestre André de Resende. Contudo, foi no século XVIII que, sob o influxo do desenvolvimento das academias, a atenção ao estudo das regiões e localidades se começou a desenvolver. Na base desse interesse estiveram fatores políticos e culturais. Os primeiros prendiam-se com o conhecimento do território e das suas gentes que era fundamental para o Estado moderno poder constituir-se e operar sobre todo o país, o que propiciou o desenvolvimento das corografias, das topografias, da “estadística”, de descrições e memórias que permitiam ir conhecendo o reino.